domingo, 30 de maio de 2010


ESTUDANDO UM POUCO SOBRE O ENVELHECIMENTO, algo me chamou atenção: o desenvolvimento da sabedoria. Entende-se por sabedoria como a orquestração do desenvolvimento humano em busca da excelência, tanto em termos individuais como coletivos; um fenômeno que reúne fatores cognitivos e emocionais a fim de desembocar numa inteligência prática (NERI, 2006). Claro que a sabedoria está muito associada às experiências e que, portanto, os mais velhos são os maiores detentores delas (apesar de não existir uma relação necessária entre velhice e sabedoria).

Entretanto, acredito ser possível adquirirmos relativa sabedoria ainda na juventude e usufruir disso para uma melhor qualidade de vida, principalmente no quesito das interações e relações humanas. Como conseguir isso? Não tenho idéia, mas resolvi elencar alguns tópicos destacados por pesquisadores como elementos de um comportamento sábio (NERI, 2006):

1)Conhecimento sobre as necessidades e motivações humanas;
2)Conhecimento sobre as questões existenciais, incluindo o planejamento, a seleção e a organização de informações relevantes para uma solução;
3)Capacidade de considerar o contexto na análise dos problemas. Desta forma, considera a complexidade das situações, a imprevisibilidade da vida e suas ambigüidades;
4)Relativismo de valores. Os sábios concebem que todos os julgamentos são relativos a um sistema de valor cultural e pessoal, isto é, são capazes de reconhecer que existem inúmeras interpretações e soluções para um único problema;
5)Capacidade de compreender e lidar com a incerteza, construindo cenários alternativos e visualizando as possíveis conseqüências (riscos) das decisões.

Não consigo desvincular a existência destes comportamentos a um vasto repertório de experiências. Entretanto, nada impede de exercitarmos estes comportamentos, até porque vários autores têm investigado as raízes da sabedoria na adolescência, acreditando que é importante identificar o que propiciou tal desencadeamento (NERI, 2006). Portanto, a comunidade científica pressupõe que um comportamento sábio na velhice teve origem na juventude.

Analisando os tópicos acima, dois me chamaram atenção: o relativismo de valores e a capacidade de considerar o contexto. Relativizar valores é algo, no mínimo, estranho para nossa arrogância juvenil. Como eu posso imaginar que aquilo que é um fato para mim, pode ser uma versão para o outro? Exercitar diferentes perspectivas é uma tarefa complexa, principalmente porque tendemos a defender aquilo que é mais conveniente para nós. Certa vez, eu li um texto na internet cuja mensagem central era a seguinte: “se as pessoas não discutissem para saber quem tem razão, viveríamos sem conflitos”. Considerando a Justiça como instrumento julgador e atribuidor de razões e concebendo os julgamentos como relativos... (pausa para pop-up de pensamentos).

Já a capacidade de considerar o contexto nos permite ampliar nossa visão. Acredito ser um exercício muito difícil, afinal o recorte da situação facilita sua compreensão e posterior julgamento. Além disso, conceber a própria ignorância diante da imprevisibilidade da vida e da inexistência da verdade absoluta (outra pausa)...
Enfim, o que se percebe é que desenvolver a sabedoria é enfrentar nossa insignificância, encarar nossos medos e angústias, despir-se de máscaras e carcaças e amadurecer. Também é um processo de dentro para fora – não só de fora para dentro (experiências). Acho que se implicar, refletir, analisar os próprios atos já é um bom primeiro passo.



NERI, Anita Liberalesso (2006). O Legado de Paul B. Baltes à Psicologia do Desenvolvimentos e do Envelhecimento. Temas em Psicologia, 14 (1), 17-34.