segunda-feira, 14 de junho de 2010

Castrados pela Linguagem


Gostaria muito de dar continuidade ao texto sobre sabedoria. Queria pesquisar mais sobre a construção do saber filosófico ou científico, o desenvolvimento da episteme, a maiêutica socrática, mas não vou resistir em construir um texto completamente empírico e experiencial. Depois eu retomo minhas pesquisas sobre esse assunto tão fundamental – o saber.

Venho observando que a juventude está se apresentando cada vez mais limitada. Mostro logo minha angústia para depois fundamentá-la (se é que é possível). Outro dia estava ouvindo na rádio um renomado acadêmico lingüista defendendo a idéia de que nunca o jovem escreveu e produziu tanto como na atualidade, tendo em vista novos instrumentos eletrônicos e virtuais que “estimulam” a produção destes constructos: Orkut, MSN, Twiter, Facebook, Blogs, etc. Além disso, o grande leque de informações oferecidas através da internet permitiu ao jovem um maior contato com as notícias, as teorias científicas, as inovações, o que enriquece bastante o repertório intelectual do adolescente. Essa é a idéia dele.

Penso completamente o contrário: nunca o jovem “ctrl C ctrl V” tanto quanto hoje. Realmente a atual realidade virtual estimula a produção da escrita, mas isso não significa que ela seja enriquecedora ou construtiva intelectualmente. Eu não sou uma exímia usuária destas ferramentas, mas navegando superficialmente no Orkut e conversando eventualmente no MSN podemos perceber o imenso vazio das informações – quando elas existem. Não quero nem entrar no âmbito dos erros gramaticais (ortografia e concordância são exigências demais para a comunicação na internet), mas os jovens não conseguem nem expressar o que pensam. A verbalização dos sentimentos e idéias tornou-se algo muito complexo. O que teoricamente parece ser fácil – dizer o que penso, o que sinto – passou a ser complicadíssimo para essa juventude, principalmente sem o uso das muletas “tipo assim, entendeu?, éééé”.
Quer que eu resuma? Peça para um vizinho, aluno mediano de escola de classe média alta, entre 15 a 19 anos, escrever em 10 linhas sobre qualquer assunto. Com certeza você perceberá um certo desespero nele em iniciar esse texto, não pelo vazio da temática, mas por realmente não saber como concretizar o abstrato que se encontra as idéias. Vamos sair da escola e passar para a faculdade...

Muitos alunos não sabem escrever! Continuo sem entrar no mérito da gramática. O que me angustia é o fato de não conseguir por no papel seus pensamentos, concatenar as idéias, ter um a visão geral sobre sua opinião. Às vezes não sabe nem como organizar em início, meio e fim, quiçá apresentar argumentos para embasar o que defende. Não quero que retirem o crédito do meu discurso pelo seu empirismo, afinal o saber empírico também é motivador da busca pela verdade. Mas que isso é um fato facilmente observável, é! Os pequenos artigos e resenhas produzidas pelos alunos são iniciados com múltiplos recortes da internet, superficialmente alterados com sinônimos. Não tenho o respaldo de professores para confirmar essa minha observação, já que eles corrigem essas produções e também as provas. Só tenho como me defender com a observação da minha irmã, professora de português do ensino médio, que ainda se assusta com a capacidade de errar dos alunos! E muito desses erros é pela falta de domínio da escrita, por não conseguir escrever o que pensa (já que eles conseguem falar). Mas para não sair do âmbito da faculdade, cito algumas experiências em que tive que fazer a introdução ou conclusão de artigos da faculdade de Marketing, Direito, Enfermagem e até pós-graduação em alguma coisa – para ajudar meus amigos!

Apesar de também estar englobando os adultos jovens, o que mais me preocupa são os adolescentes. Se minha geração, que ainda teve um resquício da enciclopédia, do método “casinha feliz”, de prova em papel pautado, de poucas opções de universidades, já não é lá essas coca-cola toda, imagina a geração que vem por aí... Uma geração de jovens oriundos do “construtivismo adaptado” (eu defendo o construtivismo, quando aplicado da forma certa), precocemente sexualizados, alvos do capitalismo norte-americano, padronizados, pouco pensantes, estimulados apenas a responderem aos “estímulos emburrecedores”. Como pode uma geração de crianças tão inteligentes – vejam como eles dominam rápido os playstations, mouses, teclados, são articulados, espertos, sagazes (meu afilhado de 4 anos entra no MSN sozinho!) – crescerem “burras”? Como diz minha Irma: “eles vão emburrecendo a partir da pré-adolescência”.

Para mim fica claro que a resposta para essa situação está no ambiente. Os filhos estão cada vez mais solitários, vulneráveis aos valores e princípios pulverizados na internet, com poucas influências da família, susceptíveis à educação das babás e dos colegas de classe, fadados às relações virtuais, ao individualismo, à superficialidade, à efemeridade... Não os vejo como plenamente passivos aos estímulos, mas sei que é difícil se esquivar deles (afinal também sou alvo) e que, portanto, eles precisam de alguma ajuda. Não quero que eles se entreguem a este universo restrito (?), com variedades padronizadas (?) e horizontes limitados (?). Enfim, a contradição do ambiente é por si só conflitante e cabe aos que já emergiram mostrar o caminho.