Sobre a dor - Agradecimento II

Agora eu quero agradecer pelas minhas dores. Odeio-as! Mas devo admitir que elas são necessárias. Não quero aqui falar que são nos tormentos que nos tornamos mais fortes, ou que é preciso cair para que aprendamos a levantar. Quero falar do pós-traumático, pós-operatório.
Sei que uma ferida dói, incomoda, atormenta, e que o tempo irá tratar de curá-la (redundante). Acho que o problema não é a ferida em si ou a dor instantânea derivada de uma queda forte, mas a recuperação. Não adianta: precisamos ter paciência para esperar o tempo passar. Além disso, ter disciplina para tomar os remédios na dosagem certa e na hora certa. Muitas vezes precisamos trocar o curativo, o que nos coloca novamente diante daquela úlcera repugnante e dolorosa que tentávamos esquecer tapando-a com a gaze. Às vezes ainda é preciso cutucá-la! É certo que a dor decorrente do machucado é muito maior do que a dor do tratamento. Mas quem irá julgar se prefere uma dor aguda e instantânea ou leve, mas crônica?
É difícil saber que precisamos um longo período de recuperação (sim, porque diante de uma ferida nós conseguimos mensurar o tempo que iremos tratá-la), principalmente porque a dor estará presente, mesmo não sendo tão insuportável. Mas sabe por que agradeço por possuí-las? Não só por me fazerem lembrar do motivo que as causou; por me fazer refletir onde eu errei; por me permitirem exercitar minha paciência e disciplina no tratamento; por me fazerem compreender que meu limite está muito mais longe de onde imaginei que ele estivesse... Agradeço porque a presença delas me faz valorizar os momentos em que elas estão ausentes!