segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Será que faz sol?

Será que faz sol?
Quero sair de novo com ela
Vê-la de biquíni será o máximo e George Harrison no carro, certeiro!
Será que faz sol?
Eu não me importo, mas e se ela der essa desculpa?
Será que chove?
Poderíamos ficar na cama, fazendo amor, ouvindo música, jogando conversa fora e bebendo vinho pra esquentar (mais?!)
Será que ela topa?
Não..., dirá que não me conhece bem, melhor a praia!
Será que faz sol?
Vou olhar no site, mas pra garantir, e como sou de Ogum, pedirei a ele que fale com Oiá pra não mandar a tempestade
Não quero ela com medo...
Desejo-a linda, e de biquíni!

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Vai que Neva?



Vai que neva?
Substituir sua irmã
Numa capacitação
Num domingo de manhã
“Qual a nova discussão?”

Vai que neva?
Vou daqui a pé
Para o Bonfim ver a lavagem
Sem nenhuma fé
Terei alguma miragem?

Vai que neva?
Marcar um encontro chato
No dia pré-menstrual
Com um pé no saco chato
Nada será natural

Vai que neva?
Ir pra o estádio
Ver dois times de nem sei o quê
Com dois amigos
Apenas pra ter o que dizer

Vai que neva?
Um biquíni vou levar
Pra um encontro das garotas
Muita Ice e pouco War
Quem será a mais escrota?

E eu?


Finalmente o grande dia havia chegado! Juro que tentei sentir a felicidade que eu demonstrava, mas o que realmente me dominava era um vazio muito angustiante. Acordei as 05:00h e a primeira coisa que fiz foi me despedir da minha cama de solteiro, da casa dos meus pais, do meu quarto... Durante o banho, ao invés de pensar em como seria meu dia de noiva, o meu pensamento vagava pelas lembranças da minha infância, pelos namoradinhos de adolescência, pela poucas noites de amor com meus poucos homens, pelas inúmeras farras com minhas amigas, pelas incontáveis noites varadas nas boites, pelos dias de trabalho de virote... As lágrimas se misturavam com a água do chuveiro. Acho que foi importante eu chorar pois aliviou minha angústia antes de encarar meus pais, já na sala, aguardando minha saída. Recebi-os com um grande abraço e forçando muitos sorrisos. Não consegui evitar o choro – nem o meu nem o de minha mãe – mas tenho certeza de que os convenci de que este era o dia mais feliz da minha vida, mesmo eu tendo certeza que não.

Foram 11 meses de um relacionamento intenso, mas muito oscilante. Talvez por termos uma diferença de 13 anos, nosso relacionamento foi marcado por muitas incompreensões. Brigávamos muito, mas, em compensação, tínhamos um encaixe perfeito. Éramos excelentes amantes! Mas o maior problema para mim não eram os momentos de vale: eu não conseguia esquecer o Juca. E quer mais uma e a pior revelação: até hoje eu não consegui esquecer... Mas não posso chorar o leite derramado. Há três meses descobri que uma pessoinha estava sendo construída dentro de mim. Imagina! Eu, com 22 anos, sem qualquer experiência, em breve seria mamãe. Não sei fazer um ovo cozido! Mas tudo bem... Qual a mulher que estava preparada pra ser mãe? Creio que eu tenha ficado feliz com a notícia da gravidez, mas junto com ela vinha o problema: o pai. Não tinha outra opção que não o casamento.

Pense numa alegria abestalhada, foi o Luciano quando soube que seria pai. Imediatamente ele já pensou em reformar o quarto da TV para o bebê. Logo depois, decidiu a igreja que nos casaríamos. Ele realmente gostava de mim, apesar de já ter aprontado muito. Mas eu tinha certeza que não correspondia àquele sentimento. O Juca sempre esteve presente nos meus pensamentos, principalmente quando começamos a trabalhar na mesma empresa nesse ultimo semestre...

Fui para o meu dia de noiva. Num intervalo entre massagens e banhos relaxantes eu choramingava sozinha (celular nem pensar). Durante a limpeza de pele, com os olhos fechados, pude perceber na mudança que estava prestes a ocorrer: eu iria constituir uma família com um homem que não amo. Neste momento já não tinha mais lágrimas pra chorar – e também os chás tranqüilizantes já estavam fazendo efeito. Mas mesmo não existindo lágrimas, uma tristeza profunda me fazia suspirar e borbulhar inúmeras dúvidas: será que eu amarei o Lu? Será que eu serei feliz? Será que o Juca sairá definitivamente da minha vida? Será que eu quero que ele realmente saia? Não havia espaço para eu pensar em meu bebê...

De repente, aqui estou. Linda. Linda, como nunca me senti antes. Dentro desse carro (que tem tanta história pra contar), sentindo o frio do ar condicionado ressecar meus olhos e ouvindo o som do motor se confundir com os sussurros dos convidados que estão fora da igreja. Meu pai fala algumas palavras que eu não consigo compreender. Não estou prestando atenção. Se ele imaginasse que minha carcaça é o oposto do que sinto, com certeza me levaria agora para casa. Ele desce do carro e abre a porta: “- vamos, minha filha.” Calma! Muita calma! Suspiro fundo e incorporo a personagem: estou realizando meu grande sonho...

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Apenas mais uma sobre perdas...



É muito fácil falar sobre nossos amigos. Amigo é aquele que escolhemos para compartilhar nossos momentos, nossa história. Falar de um amigo pode até parecer difícil, mas com certeza a dificuldade está em encontrar palavras que consigam expressar o sentimento que nos envolve. Existem músicas, livros, poesias que exaltam essa relação tão nobre e fundamental que é a amizade. Difícil é a gente falar do sentimento de ex-amigo.

Acho que nossa primeira reação quando percebemos o distanciamento de um amigo é dizer que a culpa é dele. Mas comigo não foi assim. Percebi que ela estava mais distante de mim e busquei, mais uma vez, encontrar em mim o motivo desse distanciamento. Só que ao invés de ir conversar, o que já ocorreu outras vezes, resolvi encontrar essa resposta comigo mesma, sem compartilhar com ninguém, nem mesmo com ela. O tempo passou, passou, passou e hoje somos meras conhecidas que nos falamos por obrigação. O que levou a isso? O que pode fazer uma amizade definhar? O que levaria uma de nós a se afastar da outra? Adianto logo que nada, nadinha aconteceu. O que aconteceu – e disso eu tenho certeza – foi uma mudança de sentimento inexplicável (que vou tentar explicar).

Certa vez em algum texto de filosofia, li que somos afetados por aquilo que admiramos, como se a admiração fosse algo primordial e necessário para destacar alguma figura do fundo. Portanto, tudo que temos interesse, gostamos, amamos nessa vida, passou primeiro pelo “status” de admirado. A partir dessa viagem, posso garantir: deixei de ser admirada (e talvez de admirar). Esse foi o resultado dessa mudança de sentimento. Não sei quais as etapas que o meu amor passou para chegar ao marco zero (sou incompetente e suspeita para isso, afinal de contas minha versão é enviesada), mas o fato é que uma flor tão bonita e vistosa morreu em agonia.

Entristece-me muito descobrir que era algo superficial. Juro que acreditei que a raiz era muito mais profunda. Realmente pensei que essa flor era forte o suficiente para resistir às nossas vaidades e os ímpetos que surpreendem nosso ego (que muitas vezes julgamos não os ter). Jamais julguei que era algo unilateral, mas às vezes tenho a sensação de que supervalorizei ou até mesmo sobrecarreguei algo que ainda pertencia à categoria do normal. De qualquer forma, percebo que a ausência dela me angustia muito. Assumo que tenho medo de reatar nosso relacionamento, mas não tenho como disfarçar a saudades que sinto da nossa cumplicidade, das conversas, dos conselhos. Sinto falta de admirá-la, mas acabo agindo da mesma forma que ela, com indiferença... Não para revidar, mas uma opção espontânea. Isso me preocupa muito!

Isso me faz entrar em contato com um “eu” que geralmente tentamos esconder. O lado B. Como posso ser tão mesquinha, cruel, infantil e imatura ao ponto de permitir tratar com indiferença alguém que compartilhou bons momentos comigo? Sabe o que é isso? Vaidade! Orgulho! E olhe que nem sou orgulhosa. Percebo o quanto tenho que evoluir. Vejo o quanto devo me lapidar para me tornar uma pessoa mais digna de graças. Mas sabe, diante desse lodo repugnante, confesso uma coisa: jamais deixarei de cuidar dela. No que for possível e ao meu alcance, resguardarei a sua integridade.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Crônica de uma perda




Como expressar em palavras um vazio tão profundo que nem mesmo o silêncio dá conta de representar? Nem mesmo a escuridão... o vácuo, talvez. É um nada ensimesmado, cuja a realidade não faz sentido algum. Acordar ou dormir, comer, caminhar é quase que uma obrigação, não pela ausência de vontade de fazer, mas de não encontrar sentido algum em fazer... ou não fazer. Como dói perder quem amamos. Fiquei sem referência, sem um norte, sem um farol, um porto, nada. Apenas eu em um barco perdido na imensidão do oceano, sem sequer o céu, quiçá a lua ou as estrelas; apenas a escuridão e o balanço nauseante do meu eu.

O que faço agora? Nem tenho estímulos que me façam pensar no amanhã... Escrevo apenas como um desabafo. Meu Deus, que sensação terrível de impotência diante desse fim que nunca acabou! A primeira sensação que tive foi desespero. Aquela angústia terrível, aquele nó na garganta, uma palpitação interminável, lágrimas e gritos incessantes. Tudo isso girava em torno da minha inaceitação daquela morte. Depois veio a raiva. Sentia muita raiva daquele irresponsável embriagado que o atropelou. Jurei que faria justiça com minhas próprias mãos. Mas esse sentimento de raiva não ocupou o lugar do desespero; foi uma sobreposição. Sentia as duas coisas ao mesmo tempo. Acho que só passei por essa fase por causa do Rivo.

Hoje a sensação é estranha. Continuo sentindo uma angústia melancólica, mas não consigo ver sentido em nada na minha vida. Aliás, para que fazemos isso tudo se também iremos morrer? Para que estudar, trabalhar, crescer, procriar? Quando me tornei mãe, tive a sensação que cheguei à plenitude: o sentido da vida é se doar aos filhos. Senti um amor inigualável, incondicional, gigantesco por aquele ser que saía de dentro de mim.

Mas a vida me ensinou que para todo Yang existe um Yin e experimentei as trevas (e acho que nunca sairei daqui). A sensação que tenho é que de nada vale construir, dar um passo, agir, pois tudo vai acabar, vai apodrecer. Talvez nunca consiga fazer entender esse meu vazio. Nada é análogo a esse sentimento. Não é só saudade, só luto, só tristeza, só impotência, só angústia, só desamparo, só desespero, só desilusão, só desesperança, . É uma sopa de sensações que me desconecta da realidade e me introspecta. Nunca mais serei a mesma. Nunca mais enxergarei as cores do mundo, os cheiros, os sabores.

Mais uma vez as lágrimas rolam rosto a baixo. Mais uma vez me questiono: Por que, meu Deus, por que tirou meu pequeno dos meus braços? Por que achou que eu teria forças para superar a perda de meu único filho? Sem respostas e já exausta dessa tortura, pego meu comprimido e vou dormir.

domingo, 19 de setembro de 2010

Sobre o Normal e o Patológico



Vamos para mais um assunto “psi” do nosso dia-a-dia. Semana passada estava lendo uns textos que abordavam sobre a evolução do DSM (Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais) e suas principais modificações. Algumas questões são bem interessantes como a grande influência de Freud para o DSM I ou a preocupação em romper com referenciais teóricos no DSM III. Entretanto, uma questão me chamou ainda mais atenção: o aumento exponencial do número de categorias – 180 categorias no DSM II, 295 no DSM III e 350 no DSM IV. O que isso quer dizer?

Quer dizer que os cientistas descobriram novas doenças? Que surgiram novas perturbações? Ou que se rotulou como patologia aquilo que antes era considerado normal?

Posso até ter a sensação de que a sociedade adoeceu um pouco, que as famílias enfraqueceram, que o amor se fragmentou, que o profundo se tornou raso e que o tempo é tão escasso que precisamos nos sobrepor no espaço para darmos conta do que nos é pedido. Mas será que isso alavancaria o número de doenças? Não temos como negar que algumas patologias surgiram, como por exemplo, a anorexia, bulimia, síndrome do pânico, etc. Mas até que ponto o Menino Maluquinho não é hiperativo? Dr. House não sofre da Síndrome do Mau-humor? Macunaíma não é um perverso? Dom Casmurro era depressivo? Será que realmente é preciso o metilfenidato ou a fluoxetina para equalizar o que está destoando? Será que não estamos encurtando o espaço do normal e, consequentemente, ampliando o do patológico? Acho que fica claro a influência da indústria farmacêutica nessa atual classificação.

Se formos atribuir culpas a isso, podemos também incluir a influência midiática no desenho do ideal inalcançável – inclusive de saúde – e também o adoecimento da sociedade, como disse antes. Mas não é essa a intenção. Acho que devemos recuperar mais a nossa “ânima”, aceitar nossas oscilações, viver nossas angústias, permitir que as lágrimas caiam, que as gargalhadas escapem... Quem sou eu para falar de emoções, mas sei que elas são assim: montanha russa, terremoto, adrenalina. Intensidade! Será que estamos deixando de ser mais intensos? Será que estamos nos desumanizando?
As coisas estão tão superficiais, tão efêmeras que o apego é algo quase que impossível de se estabelecer. Também percebi que as pessoas andam meio carentes (outro dia num barzinho uma garota, que ninguém conhecia, contou todos os problemas em menos de 20 minutos, falando do pai, irmão, terapias, etc.). Pode ser que essa carência é pela falta do apego e que o apego é pela falta da intensidade. Não tenho como estabelecer esse nexo causal. O que sinto é que temos que recuperar nosso contato, nosso calor, permitir que nossas vísceras se expressem. Temos que aceitar que nossos sentimentos têm amplitudes e freqüências e que sentimentos lineares e constantes é que deveriam ser patologizados. Faz parte de ser humano vivenciar a intensidade das emoções, perder o controle, deslizar, gritar, extrapolar. Acho que precisamos nos permitir sentir...

Que ninguém pense que esse meu discurso é contra a psiquiatria. Jamais mancharia essa área deslumbrante da medicina. Minhas palavras são apenas para trazer para nossa realidade os inúmeros discursos que estão ocorrendo sobre essa temática.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

A Caixa de Pandora




O titã Prometeu presenteou os homens com o fogo para que dominassem a natureza. Zeus, o chefão dos deuses do Olimpo, que havia proibido a entrega desse dom à humanidade, arquitetou sua vingança criando Pandora, a primeira mulher a habitar o planeta. Por ser sua primogênita, Pandora recebeu os melhores e mais perfeitos atributos dos deuses. Recebeu de um a graça, de outro a beleza, de outros a persuasão, a inteligência, a paciência, a meiguice, a habilidade na dança e nos trabalhos manuais. Hermes, porém pôs no seu coração a traição e a mentira.

Prometeu foi condenado por Zeus a ficar 30.000 anos acorrentado no Monte Cáucaso, tendo seu fígado comido pelo abutre Éton todos os dias. Mas, antes disso e diante da possibilidade de outras vinganças de Zeus, Prometeu preveniu seu irmão, Epimeteu, que recusasse todo presente vindo do deus dos deuses. Entretanto, diante de toda a perfeição de Pandora, Epimeteu ignorou os conselhos do irmão e aceitou Pandora como esposa.

Epimeteu carregava consigo uma caixa recebida de presente pelos deuses que continha um arsenal de desgraças para o homem, como a discórdia, a guerra e todas as doenças do corpo e da mente mais um único dom: a esperança. Apesar de não revelar o conteúdo, Epimeteu pediu à esposa que não abrisse aquela caixa sob qualquer circunstância.

Entretanto, Pandora desobedeceu seu marido e abriu a caixa. Segundo Hesíodo, o poeta camponês, Pandora teria aberto a caixa levada pela curiosidade, de onde saem todas as desgraças e calamidades para os homens que viviam tranqüilos e felizes até então. Ao fechá-la, rapidamente, conseguiu prender em seu interior a esperança que por séculos ficaria encerrada como uma promessa de retorno aos felizes e ditosos tempos da infância da espécie humana sobre a Terra.




Conseguimos perceber com bastante clareza a relação entre a mulher e a beleza, a sensualidade, a dissimulação e a destruição. A Bíblia também traz essa vinculação ao atribuir à Eva a responsabilidade de disseminar o mal na Terra. Espanta perceber que a razão da minha concepção está na sensualidade e na destruição. E ainda temos esperança em destruir ou ao menos reduzir o machismo que nos impõe à submissão e nos resume à meros recipientes reprodutores! Quer dizer então que fui eu que mordi a maçã e condenei o pobre coitado do Adão, tão puro e obediente, à expulsão do Paraíso; eu que abri a temível caixa, traindo a confiança do meu grande amor e libertando o mal para todos os inocentes? Como retirar esse rótulo das mulheres se sua criação foi para um fim triste? Se fomos nós as culpadas pelas desgraças da humanidade?

Para não mergulhar (ainda mais) num discurso feminista, vamos fazer outra leitura sobre o mito de Pandora. Alguns percebem que a caixa representa o desconhecido e que a curiosidade humana em responder às obscuridades do desconhecido é que provoca o mal e a destruição. Acho que não consegui fazer essa leitura, afinal o conhecimento – ou a ciência – proporcionou inúmeros alívios às mazelas oriundas da caixa de pandora. Então vamos voltar ao meu discurso rebelde.

Por que não conceber o mito de Pandora como representativo de uma grande injustiça? Vamos por partes. Zeus, o poderoso chefão, concebe sua primogênita impregnado de raiva e vingança. Que pai é esse que agrega atributos de perfeição a sua filha pensando em seduzir um homem para vingá-lo? Animalesco! O pior é que a vingança já havia sido concretizada com a punição sadista dada a Prometeu.

Ok. Outra parte. A coitada da Pandora se casa com Epimeteu e tinham tudo para viver felizes para sempre, se não fosse a maldita caixa. Nem vou entrar no mérito “por que Epimeteu não contou o que havia dentro da caixa?” porque existem várias versões para o mito. Alguns dizem que foi Pandora quem trouxe a caixa e abriu na frente de Epimeteu; outros que ela trouxe e ele abriu... Enfim, a próxima parte é: por que Zeus não espalhou o mal na Terra já que ele era o todo poderoso? Independente da versão, a culpa foi da coitada da Pandora. Em qualquer uma das hipóteses ela não sabia o que havia na caixa e esta foi criada como uma armadilha! Ou seja, a caixa não foi feita para realmente guardar o mal, mas para ser aberta. O pior é que ou foi Pandora quem abriu, ou a caixa era dela ou as duas hipóteses. Quer dizer: Epimeteu "tá de boa" nisso tudo, já que: a) se a caixa era dele, ela desobedeceu suas ordens de não abrir (mulher enxerida!); b) se a caixa era dela e ele abriu, ela já trouxe consigo nessa intenção (mulher calculista, fria, falsa!); c) se a caixa era dela e ela mesma abriu... (tem que queimar no inferno!). Sempre a condenação recai à Pandora?

Ela foi usada! Ferramenta, objeto manipulado por um aristocrata perverso. Usada para satisfazer os ímpetos de um animal e punida por ser o lado mais fraco da corda. Rotulada pela sua desobediência ou impulsividade. Todos abstraíram as inúmeras qualidades (todas dadas por outros deuses) de Pandora para estereotiparem como a “causadora do mal”. Chega de palhaçada!

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Conto I

- Pai, por que você tem que voltar pra casa?
- Já está na minha hora e já brincamos demais. Além disso você pode pegar um resfriado.
- Não acho que brincamos demais. Queria ter mais tempo com você. E o que tem se eu pegar um resfriado? Não quero perder essa oportunidade de passar mais um tempo com o senhor por causa de um resfriado que nem sei se vai acontecer.
- Meu filho. Sinto muitas saudades de você, mas existem coisas na vida que só compreendemos depois dela. É claro que não gostaria de me afastar de vocês, mas todos nós temos a nossa hora. Se pensarmos bem, não fomos tão penalizados, já que ainda podemos nos ver, não é verdade?
- Mas não quando eu quero. Sempre depende de sua vontade. Outro dia, pai, eu chorei muito numa discussão com a mamãe pois ela não queria me deixar sair para a formatura de uma colega. O meu choro não foi por não ter ido, pois nossa discussão me fez compreender que seria um pouco perigoso para mim, mas por não ter alguém para eu compartilhar essa minha angústia. Sei que se você tivesse presente eu teria ido e ela não ficaria tão preocupada. Me senti um injustiçado. Queria muito seu conforto naquela hora e você não apareceu. Por quê?
- Não significa que eu não apareci porque não quis. Aliás, neste momento eu percebi seu sofrimento, mas saiba que é o sofrimento que nos fortalece. Em muitos momentos da sua vida você se sentirá só e é nessas horas que você perceberá o quanto você é forte. Neste dia você chorou muito, mas seus momentos de reflexão permitiram algumas conclusões, dentre elas a de que sua mãe muitas vezes necessita mais da sua proteção do que você da dela. Isso é uma tendência que, com o tempo ficará muito mais nítido.
- Sim, mas eu queria que você me ajudasse... Eu queria a sua presença para me apoiar, me ajudar a conquistar minha independência, me orientar... Às vezes não consigo verbalizar todo esse terremoto dentro de mim, mas tudo isso me deixa muito triste.
- A vida é dura, meu filhinho, mas nem por isso menos bela. Sente-se aqui perto de mim. Temos que aproveitar o que ela tem de melhor a nos oferecer. Você deve aproveitar os beijos de sua mãe, os abraços dos seus avós, as risadas dos seus amigos. Deve crer em Deus, no seu destino e principalmente nas pessoas que gostam de você. Tudo virá no seu tempo: a sua independência, a sua segurança, as respostas para suas dúvidas.
- Pai, confesso que nas minhas rezas diárias nem sempre está presente minha crença no que estou orando. Sabe por quê? Do que adianta pedir pela saúde da minha família se quando for para adoecermos, adoeceremos pela vontade Dele? Tudo é pela vontade Dele e você me disse isso! Então, por que vou crer Nele se foi Ele quem tirou você de mim? Por que vou acreditar na bondade divina se eu perdi o que era mais importante na minha vida?
- Desculpas por repetir o que muita gente já deve ter dito a você, mas a vida é maravilhosa. Se déssemos o valor certo enquanto ainda temos juventude, com certeza as pessoas seriam mais felizes. O problema é que só damos o real valor às coisas ou quando perdemos ou quando já estamos bem velhinhos e aí já é tarde demais. Quero muito, meu filho, que você acredite na vontade Dele. Se você conseguir ter mais fé, terá mais sabedoria para compreender aquilo que nos parece incompreensível. Deus escreve certo por linhas certas, só que precisamos de maturidade para enxergarmos isso. Ele não me tirou da sua vida. Desde quando eu te concebi como filho e você como seu pai nos tornamos uno, inseparáveis. Nosso elo não se quebrou com minha partida e isso não é por causa da sua mediunidade. Mesmo àqueles que não conseguem enxergar espíritos, conseguem se manter próximos dos seus entes que já desincorporaram. E eles se confortam com isso, sabia? No sentimos muito melhor quando vocês se conformam com a nossa partida.
- Pai, nada disso me conforta. Só eu sei o vazio que levo comigo. Só eu sei como eu seria mais feliz se eu pudesse ter meu pai para me levar à escola, para me contar suas histórias, para me ensinar a dirigir, me ensinar a namorar. Só eu sei como me sinto só com essas mudanças no meu corpo, com essa insegurança sobre as meninas... Como posso conversar com a mamãe sobre a Julinha? Como posso dizer que já dei meu primeiro beijo e que tenho outros desejos? Isso tudo me angustia e às vezes me apavora! Por que eu fui alvo dessa injustiça? Eu merecia passar por isso? Eu merecia perder a proteção e o conforto do meu melhor amigo?
- Meu filho. Não duvide da bondade de Deus. Olhe para tudo ao seu redor e se pergunte: de onde vem essa natureza linda? Por que você se sente bem com essa paisagem esplendorosa, um pôr-do-sol no mar calmo dessa tarde de verão? Quem nos daria um mundo tão lindo e perfeito para morar senão alguém de uma bondade infinita?
- Mas pai, muito disso tudo a ciência já explica. Eu sei que a areia que estamos pisando são destroços das pedras, sei por que temos coqueiros ao invés de pinheiros, enfim, se o mundo foi feito para nos fazer bem, foi o acaso que o construiu assim, e não Deus.
- Então você acha que o acaso foi bondoso conosco? O acaso, o a evolução de Darwin, que fez o planeta harmônico, os animais e o homem com detalhes tão perfeitos? É por acaso que você pensa, se move, matem seu corpo em perfeito funcionamento, mesmo sabendo que ele tem tantas peças para darem errado? É o acaso que faz você me ver agora, conversar comigo, que permite dialogarmos de planos diferentes? Não consegue perceber que o que você chama de acaso pode ser visto como a vontade de Deus? Meu filho, com tanta racionalidade, quero que me explique como eu existo para você? Aliás, eu existo?
- Claro que sim. Existe e não é fruto da minha imaginação. Você existe para mim quase da mesma forma de quando ainda era vivo. A diferença é que não posso te ver sempre que quero.
- Então para os outros eu não existo, concorda? Se você contar para sua avó que conversa comigo ela poderá brigar com você e até achar que você está enlouquecendo! Ela estaria certa em afirmar que eu não existo apenas pelo fato de não ver? Estaria certa em desconfiar da sua palavra? Claro que não. Apenas pelo fato de eu não ser matéria, não implica que eu não exista, que eu seja nada. Veja que estou tentando mostrar que devemos crer naquilo que não podemos ver nem explicar. Devemos crer na existência e na bondade de Deus. Ele existe e apesar de não conseguir explicar, conseguimos senti-lo.
- Pai, onde está a bondade de Deus quando ele o tirou de mim? Qual e a parte boa dessa historia da sua partida? Alguém conseguiria ver bondade nas lágrimas da mamãe? No desespero da vovó? Na tristeza imensa do vovô? Não falo só do dia da sua desencarnação, mas até hoje o luto permanece. Nunca esqueceremos aquele domingo ensolarado. Jamais imaginaríamos que aquela saída rotineira para levar frutas para a vovó, às 7 da manha, resultaria naquele acidente. Só de falar eu já me emociono... Nunca mais fomos os mesmos. Onde está a presença de Deus neste momento?

(...)

sábado, 31 de julho de 2010

Análise da Dinâmica de Grupo



A dinâmica de grupo faz-se presente no mundo atual em diversas áreas e passeia desde a psicologia à administração de empresas. Um mundo individualizado e até mesmo individualista está demandando pessoas que mantenham bons relacionamentos com grupos e, até as próprias pessoas demandam esta mudança no comportamento para seu melhor desempenho na sociedade.

Para caracterizar melhor a dinâmica de grupo, faz-se necessário desenvolver a idéia de grupo que suas teorias fundamentam. O grupo não é considerado a soma dos seus integrantes; é algo além deste conceito. Ele possibilita aos membros uma consciência, que difere da dos indivíduos em si, dos aspectos que facilitam e dificultam na obtenção dos objetivos propostos.

O processo grupal ocorre em dois níveis: o manifesto e o latente. Nem sempre estes dois níveis caminham em paralelo, pois, por exemplo, no nível manifesto o grupo reconhece uma estrutura de poder, no entanto, o latente, o subjacente, funciona com uma outra estrutura. A dispersão da energia, na manutenção desta situação faz com que o motivo de existência do grupo não se satisfaça plenamente. Outro exemplo se dá na estrutura de papéis que é criada pelo grupo. Quanto mais flexível for esta estrutura, possibilitando que seus membros exercitem um maior número de papéis, tanto maior será o nível de satisfação experimentado pelos membros do grupo. O contrário, ou seja, a rigidez, a cristalização dos papéis existentes no grupo, diminui o investimento de energia nos motivos do grupo, pois está voltada à manutenção dos papéis, o que pode provocar um maior desgaste. Além disso, ainda nos níveis manifesto e latente, há os papéis que o grupo espera que um indivíduo represente, os papéis que o indivíduo espera representar e os papéis efetivamente representados. A desarmonia destas três expectativas, nos dois níveis, propicia sentimentos de frustração, de não aproveitamento de potencial etc.Enfim, Dinâmica dos Grupos é o estudo destes processos, e outros tantos, objetivando um melhor funcionamento do grupo a partir das consciências individuais.

O principal colaborador para a dinâmica de grupo foi o psicólogo Kurt Lewin, atuante da psicologia social. A característica notável da psicologia social de Lewin foi a aplicação de conceitos relativos aos comportamentos individual e grupal. Assim como o individuo e seu ambiente forma um campo psicológico, o grupo e seu ambiente também compõem um campo social. Foi Lewin quem popularizou a dinâmica de grupo.

A dinâmica de grupo, nos dias atuais, tem sua aplicação até mesmo na educação nas escolas. Os professores procuraram ensinar capacidade de liderança, cooperação, participação responsável e relações humanas. Surgiu a concepção do professor como um líder de grupo, que influi na aprendizagem dos alunos, não só por sua competência na matéria, como também por sua habilidade em aumentar a motivação, estimular a participação e criar entusiasmo. Esta visão do professor como facilitador foi apresentada por Paulo Freire.

Educador preocupado com seus deveres sociais, Paulo Freire desenvolveu um método de ensino particular que está atrelado às vivências cotidianas do educado. Neste método, o educador (animador) facilita a alfabetização ao considerar palavras, situações e até mesmo pessoas do dia-a-dia do estudante. Desta forma, o processo de aprendizagem considera a relação educador-estudante, abdicando da visão vertical hierárquica. A pedagogia deve ser dialógica, que exige um pensar verdadeiro e crítico. É justamente neste pensamento que Paulo Freire contribuiu para o amadurecimento da dinâmica de grupo.

Não se deve existir a dicotomização homens e mundo, mas sim uma contínua interação. Como seres inacabados, os homens se fazem e refazem na interação com mundo, objeto de sua práxis transformadora. O contínuo aprendizado está presente não só nas salas de aula, como também fora delas. O saber absoluto não esta impregnado em nenhum ser humano e isto é fator motivador para a absorção de conhecimentos que partem dos outros, independente do nível de conhecimento acadêmico que este outro possui.

Uma outra aplicação da dinâmica de grupo está na psicoterapia. O psicodrama de Jacob Levy Moreno é um exemplo no qual a dinâmica de grupo está bastante presente. Para Moreno o homem é um indivíduo social, pois nasce em sociedade e necessita dos outros para sobreviver, sendo apto para conviver com os demais. Moreno objetiva a possibilidade de tratamento e cura das relações sociais doentias através da sociatria (psicoterapia de grupo, psicodrama e sociodrama). No Psicodrama é o tratamento do indivíduo e do grupo ocorre através da ação dramática. Na Psicoterapia de grupo a dinamica grupal prioriza o tratamento das relações interpessoais. O Sociodrama encherga o grupo como o protagonista enquanto mantêm alguma tarefa ou objetivo em comum.

A principal contribuição de Moreno para a área de dinâmica de grupo foi a importância da espontaneidade, da criatividade e da atuação em papéis. Uma dinâmica grupal flui melhor e é mais completa quando seus integrantes estão agindo de forma espontânea e extrovertida.

Carl Ransom Rogers também foi outro psicólogo que deixou grande legado a ser absorvido pela dinâmica de grupo. Apesar de haver um foco na relação psicoterapeuta cliente, os conceitos rogerianos podem ser absorvidos na relação grupal; são eles: a consideração positiva incondicional, a empatia e a congruência. Em linhas gerais, ter consideração positiva incondicional é receber a aceitar a pessoa como ela é e expressar um afeto positivo por ela. A empatia, por sua vez, consiste na capacidade de se colocar no lugar do outro, ver o mundo pelos olhos dele e sentir como ele sente, comunicando tal situação para ele, que receberá esta manifestação como uma profunda e reconfortante experiência de estar sendo compreendido, não julgado. A congruência é a condição que permitirá ao profissional, embora alimente um afeto positivo por seu cliente e tenha a capacidade de “estar no lugar” dele, a habilidade de expressar de modo objetivo seus sentimentos e percepções, de modo a permitir ao cliente as experiências de reflexão e conclusão sobre si mesmo. Tais situações devem ocorrer com naturalidade e sinceridade, não havendo simulação.
Rogers percebeu que estas três condições são eficazes no aperfeiçoamento da condição humana em qualquer relacionamento interpessoal. Sendo assim, para que uma dinâmica de grupo seja bem elaborada e flua com facilidade é necessário que a compreensão seja a base da harmonia do grupo. É justamente no desenvolvimento desta capacidade de compreender que Rogers enfatiza seus estudos.
Enrique Pichon-Rivière foi outro autor que muito contribuiu para a dinâmica de grupo. Ele concebe o homem como ser social e a subjetividade humana se constitui no campo do outro. Surge o conceito de vínculo, como uma estrutura complexa e multidimensional que abriga sistemas de pensamentos, afetos e modelos de ação, maneira de pensar, sentir e fazer com o outro. Para Pichon-Rivière, o sujeito pode ser considerado como um sistema que não é autônomo em si mesmo, mas um sistema incompleto que "faz sistema com o mundo".
A concepção de Pichon-Rivière do homem intimamente relacionado com o mundo e o outro parece bastante extremista, já que pouco considera a individualidade humana. Porém, tal concepção faz-se necessária para a manutenção das relações interpessoais e a valorização desta como fundamental para constituição do ser humano. Tal fato também se aplica nas experiências de dinâmica de grupo.
A dinâmica de grupo é fundamentada em pesquisas científicas para sua melhor exploração. A crença na possibilidade de se realizar pesquisas empíricas com grupos de pessoas, de medir fenômenos importantes, de manejar, para fins experimentais, as variáveis de grupo e de descobrir as leis que governam a vida do grupo, foi fundamental para o desenvolvimento da dinâmica de grupo. Graças à estes e outro muitos autores, esta área tão utilizada em diversos campos profissionais foi criando uma dimensão e se estabelecendo e estruturando para abraçar toda esta demanda. O mundo moderno está exigindo resultados das dinâmicas: uma melhora na relação doentia e frágil que os individualistas stressados tanto almejam.
Apesar dessa demanda pelos resultados é preciso visualizar a dinâmica como um processo que envolve certo controle por parte do profissional, mas que muitas vezes revela resultados imprevisíveis. As respostas encontradas nas dinâmicas, suas conseqüências e resultados são provenientes da interação do grupo e as relações que as pessoas estabelecem. A dinâmica de grupo compreende o ser humano como sujeito multifacetado, repleto de subjetividades e que se relaciona com o meio, sendo, portanto, vulnerável à mudanças contínuas. Portanto é impossível prever os comportamentos que as pessoas podem apresentar e sim levantar hipóteses sobre tais comportamentos. Destarte, a psicologia tem grande importância para a dinâmica de grupo. Logo, este assunto deveria ser mais desenvolvido nas áreas psicológicas.
As contribuições dos diversos autores foram cruciais para a construção do repertório teórico da dinâmica de grupo e com certeza existe a influência da psicologia para tais. Da mesma forma, a aplicação da dinâmica de grupo exige conhecimentos prévios da psicologia para melhor compreensão dos resultados. Porém estas atividades deveriam ser mais exercitadas pelos psicólogos para que o domínio da técnica seja algo freqüente entre o meio.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:


BRANDÃO, C. R., O que é método Paulo Freire., Ed. Brasiliense - São Paulo, 1981 (14 ed, 1988), 113 p. - (Coleção Primeiros Passos)

CARTWRIGHT, D & ZANDER, A. Dinâmica de Grupo. Ed. Cultrix – São Paulo, 1973

LAPASSADE, G. Grupos organizações e instituições. Ed. Francisco Alves - Rio de Janeiro, 1977

MORENO, J. L., Psicoterapia de Grupo. Ed. Mestre Jou – São Paulo, 1975

SCHULTZ, D.P., E SCHULTZ, S.E., História da Psicologia Moderna. Ed. Cultrix – São Paulo, 1981

Um pouco de Loucura




Contexto histórico

Até o século XV, no início do Renascimento, não havia ainda o internamento (pelo menos como prática instituída e sistematicamente aplicada) do louco. O louco era, a princípio, somente um errante; e sua imagem, figura altamente simbólica, constantemente presente tanto na literatura, quanto nas pinturas.
No Renascimento se assiste ao rompimento dessa relação entre literatura e pintura, tão íntima até o século XV. Por outro lado, a literatura e a filosofia dão à loucura um papel privilegiado de sátira moral. O novo tratamento moral atribuído ao louco, retirando dela seu caráter e significado trágico e cósmico.Diante desses fatos é que nasce a percepção clássica da loucura marcada pela supremacia da consciência crítica sobre a experiência trágica da loucura. É o momento em que a loucura é apreendida e torna-se um fato discutido.
Outro acontecimento que marcou a percepção clássica da loucura foi a fundação do Hospital Geral em 1656, em Paris. No primeiro momento da fundação do Hospital Geral, a loucura, é tomada como um dos aspectos da desrazão, tem o significado preciso de imoralidade. O Hospital Geral organiza na medida em que reúne em seu espaço de reclusão os personagens que constituem o objeto da percepção clássica que é a desrazão: o pobre, o vagabundo, o imoral, o blasfemo, e também o louco. São todos múltiplos personagens da desrazão, e por isso são imorais.
No século XVII os hospícios podiam ser considerados casas de internamento, onde não havia tratamento servindo apenas como medida de precaução ou um lugar de depósito, auxílio e punição. Philippe Pinel foi considerado um reformador, pois em 1793 promove o nascimento da clínica, onde oferece para os doentes um tratamento moral. No Brasil, esta realidade aparece um pouco mais tarde.
A doença mental do século XIX era descrita segundo os critérios franceses, que enfatizava seu caráter moral. Nesse sentido, a alienação era considerada uma desordem de comportamento. O doente deveria ser afastado das causas de sua loucura. Por isso, ficava isolado da família e excluído da vida social. Tal princípio foi o que guiou a construção de hospícios no Brasil.
O Estado brasileiro tinha, nesta época, uma forte preocupação com a saúde pública como forma de proteção da nova ordem social. Grandes campanhas para a erradicação de epidemias foram promovidas, e tiveram seus heróis como Oswaldo Cruz e Carlos Chagas. O crescimento urbano caótico também apavorou as autoridades, pois as ruas estavam tomadas de uma maioria miserável, porém necessária para o capitalismo industrial nascente, estava completamente exposta às epidemias, e era preciso garantir que as mazelas dos pobres não transbordassem e contaminassem as elites. Percebe-se claramente o caráter higientista que impregna a atuação psiquiátrica.
Em meados do século XIX (1852) foi criado no Rio de Janeiro o primeiro hospital para doentes mentais no Brasil: o Hospital Dom Pedro II, que marca o nascimento da psiquiatria no Brasil. A prática psiquiátrica brasileira iniciou como um sistema de assistência abrangente por intermédio de Juliano Moreira, médico que introduziu definições da escola de psiquiatria alemã no país. A psiquiatria do século XX deixa de se restringir ao doente mental, para englobar aqueles que apresentam desvios potenciais.
A proposta desta psiquiatria começou a ser revista sob o olhar ético dos direitos humanos. Percebeu-se que a concepção psiquiátrica de tratamento incluía, o sofrimento dos tratamentos e até mesmo a exclusão social do sujeito, podendo o hospital psiquiátrico ser considerado uma prisão sem previsão de saída. Surge então um novo pensamento, sugerindo uma reforma na psiquiatria.
A concepção de psiquiatria higienista foi sendo modificada (que atendia a um projeto de medicalização social, através das prevenções das desordens mentais). Concebendo-se um novo projeto de promoção da saúde, uma abordagem mais preventiva.
A reforma psiquiátrica propõe enquanto modelo não institucional, extra hospitalar a implantação de CAPS. O CAPS é uma fase intermediária entre a internação e o atendimento ambulatorial, sendo equivalente ao antigo hospital-dia. As vantagens são que os pacientes não perdem o contato com a família, já que geralmente ele volta para casa a noite. Mas deve se tomar cuidado para que esse centro de assistência extra-hospitalar não se torne um mero local onde os pacientes passam o tempo, no qual o usuário se torne dependente para o resto da vida.
O fim das instituições manicomiais representa não apenas uma mudança de modelo assistencial psiquiátrico, mas uma mudança na forma de como a sociedade lida com as pessoas portadoras de sofrimento das mais diversas ordens. Esta é uma luta contra a violência a qual são submetidos não apenas os usuários (os portadores de sofrimento psíquico), mas também os técnicos, igualmente vítimas das condições perversas impostas por estas instituições, e enfim, a sociedade como um todo, pois a violência contra os seres humanos é uma violência contra a dignidade humana. A Luta Antimanicomial existe há aproximadamente 20 anos e tem como meta a substituição progressiva dos hospícios, por formas de atenção em saúde mental dignas, que respeitem o direito à liberdade e cidadania das pessoas com transtorno mental.


Teóricos

Lacan escreve uma frase na sala de plantão onde trabalhava; uma frase que se tornaria célebre posteriormente: “Não é louco quem quer”. Ela preconiza a loucura como algo que tem sua lógica própria independente da vontade e do estado de espírito do indivíduo. Falar da psicose no lugar das psicoses ressalta a primeira como uma estrutura clínica que tem um modo particular de articulação do real, simbólico e imaginário.
Freud contribui para o saber da psicose em inúmeros textos. Em “Psiconeuroses de defesa” (1984) ele afirma que existe na psicose uma defesa muito mais enérgica e eficaz que na neurose; Em “Novas observações sobre as psiconeurose de defesa” (1986) Freud discorre sobre a aplicação da classificação dos sintomas da neurose obsessiva à paranóia; Em carta a Fliess (1899) ele fala que a paranóia tem como ponto de fixação no desenvolvimento libidinal o auto-erotismo; Em “Três ensaios sobre a sexualidade” (1905) Freud fala da agressividade e transformação do amor em ódio na paranóia; Em carta a Jung e a Ferenczi (1908) ele levanta a hipótese da relação entre paranóia e homossexualidade; No “Caso Schreber” (1911): ele discorre sobre a tríade: frustração, regressão e fixação. E, finalmente, em “Notas psicanalíticas sobre um relato autobiográfico de um caso de paranóia” (1911) Freud afirma que o que foi abolido dentro volta do lado de fora, frase esta que Lacan retoma dizendo que o que é foracluído no simbólico retorna no real.
Lacan propõe a foraclusão do Nome-do-Pai como mecanismo específico da psicose. A passagem do sujeito pelo Édipo irá muni-lo de uma armadura significante mínima que condiciona sua entrada no mundo simbólico. Contudo para haver sujeito do inconsciente é preciso que haja linguagem, pois o inconsciente é estruturado como uma linguagem. Logo, os psicóticos não são destituídos de linguagem.
O Édipo será o determinante para o sujeito a estruturação do sujeito como psicótico, caso ocorra a foraclusão do Nome-do-Pai. Sendo este, segundo Quinet (2002) um neologismo que se utiliza um português para designar que não há inclusão, que o significante da lei está fora do circuito, sem deixar, no entanto de existir, pois o que está foracluído do simbólico retorna no real. Desse modo o sujeito não é submetido à castração simbólica, o que impossibilita a sua significação fálica advir, o que o fará se situar numa problemática fora-do-sexo. O Nome-do-Pai permite o sujeito entrar na linguagem, em decorrência da sua não inscrição no psicótico ele poderá apresentar distúrbios da linguagem, alucinações.
O Édipo se divide em três tempos lógicos. No primeiro tempo lógico a criança é identificada como o objeto de desejo da mãe, fazendo-se a igualdade, bebê=falo. Nesta fase a mãe é para a criança um Outro absoluto, sem lei. Deste modo, esta se encontra totalmente vulnerável à mãe e dependente de seus cuidados. Ainda neste primeiro tempo lógico do Édipo há o estádio do espelho o qual é definido por formar uma imagem de unidade da criança com o outro, que é a mãe.
No segundo tempo lógico do Édipo é marcado a entrada da criança no mundo simbólico. Dessa forma a mãe passa de um estatuto de objeto primordial ao de signo. Contudo, este processo de simbolização da mãe necessita de um terceiro que é metaforizado pelo Nome-do-Pai. Quando a intervenção do Nome-do-Pai no Outro, que é a mãe, é bem sucedida a identificação da criança com o falo é destruída ou recalcada. A criança passa da posição de ser o falo para a dialética de ter ou não ter o falo. Essa dialética permitirá o sujeito atribuir significações aos significantes, situar-se na ordem simbólica e situar-se na partilha dos sexos como homem ou mulher. O efeito da castração simbólica aparece no imaginário como falta.
O terceiro tempo lógico do Édipo é marcado pelo declínio do complexo de Édipo. A Inclusão do significante do Nome-do-Pai no Outro marcará a entrada do sujeito na ordem simbólica e a conseqüente inauguração da cadeia do significante no inconsciente.
Como apresenta Quinet (2002), a apresentação de pacientes é contemporânea ao nascimento da psiquiatria, datando ambas do fim do século XIX e do início do séc. XX.
Charcot fez da Salpétrière, nas terças-feiras, palco das apresentações de seus pacientes que eram vistas como um espetáculo, para um o público à qual era permitida a participação. Ele fazia uso de uma clínica da observação, do olhar, sendo a fala do paciente bem vinda unicamente para a demonstração de um saber prévio. Dessa forma a este não era dada a oportunidade de emergir a sua subjetividade. Charcot se dedicou ao estudo da histeria, patologia esta que era a sua especialidade e fez a sua glória.
Freud propõe, como define a sua filha Anna O., o “teatro privado”. Ele possuía um foco para além da visibilidade e do espetáculo do corpo, para o modo de funcionamento do inconsciente. Diferente de Charcot, Freud utilizava-se de uma clínica que favorecia a escuta. E para a construção do saber psicanalítico ele não utilizou a apresentação de pacientes, mas sim os casos clínicos. Contudo como legado de Charcot, ele herdou o interesse no estudo das histéricas e na constituição do saber transmissível, no seu caso a psicanálise, e a proposta de um modo de tratamento.
Lacan institui a apresentação de pacientes associada à psicanálise. Diferente de Charcot, ele realiza a apresentação de um único paciente para um público selecionado. E assim como Freud, Lacan realiza a clínica do sujeito do inconsciente, prezando, desse modo, pela fala. Quinet (2002) resume dizendo que
“a apresentação lacaniana de pacientes é uma experiência que não só implica a transmissão do instrumental psicanalítico permite a apreensão do sujeito do inconsciente, como também serve de orientação diagnóstica, prognostica e terapêutica para a equipe hospitalar que se ocupa do paciente entrevistado”.

A partir do real da clínica a prática da apresentação de paciente implica a inserção entre a psiquiatria e a psicanálise.


Atuação profissional

Ao profissional da saúde cabe a habilidade de realizar entrevistas utilizando-se de seus conhecimentos técnicos e até mesmo intuitivos para uma boa realização da anamnese psicopatológica. Tal fato é de extrema importância, pois dificuldades relacionadas aos limites do paciente e até mesmo à ética do profissional devem ser contornadas para proteger o contexto da entrevista. A paciência e a experiência do profissional também são grandes influências que qualificam a entrevista, retirando delas o máximo de conhecimento possível.
Para Dalgalarrondo,
“o profissional, ao entrar em contato com cada novo paciente, deve preparar o seu espírito para encarar o desafio para conhecer esta pessoa, formular um diagnóstico, entender, quando possível, algo que se passa no interior desse indivíduo.” (DALGALARRONDO, p.52)

A anamnese psicopatológica difere da anamnese psiquiátrica principalmente quanto ao enfoque. Exames físicos, neurológicos e complementares são solicitados pelo psiquiatra, que objetiva o encontro da “queixa principal”. Muitas vezes, estes profissionais necessitam da ajuda de parentes do paciente, que se recusa (às vezes defensivamente) a apresentar sua queixa. Um outro ponto diferencial está na veracidade dos fatos. O psiquiatra necessita de informações verdadeiras e confiáveis para dar continuidade à seu tratamento. Já o psicólogo confia na fala do paciente: o que ele traz, o que diz e aponta. A escuta é valorizada e, aos poucos, o paciente toma conhecimento do que diz (através da pergunta: “che vuoi” – o que você quer dizer com isso?) e encontra sua “queixa”. A clínica do olhar e da escuta se opõem e se conflituam quanto à seus objetivos.
A clínica do olhar reduziu o conhecimento científico àquilo que é observável. A soberania do olhar proporcionou aos pacientes se limitarem em dizer àquilo que o observador quer ouvir. Seus seguidores desconsideram a importância do “ouvir” e oferecem resposta imediatistas, onde Freud caracteriza-os de “trapaceiros que dão mais do que possuem”. Para Montezuma,
“O paciente que mensalmente apanha sua receita com um psiquiatra que mal o convida para sentar vive em crise ou estabilizado em uma posição em que aparentemente não sofre, mas também não existe como sujeito” (in Quinet, p.141).

Encarar o paciente como sujeito composto por subjetividades particulares não é habito da clínica do olhar. Este modelo supervaloriza a sintomatologia e seu tratamento medicamentoso.
Já a clínica da escuta valoriza o “caso a caso”, privilegiando a singularidade de cada sujeito. Ouvir o paciente e sua queixa são fundamentais para este modelo. Sendo assim, a fala do sujeito deve ser privilegiada de forma a levá-lo à pensar na sua implicação e sua participação nos sintomas para que possa descobrir outros caminhos para seguir a vida sem dificuldades. Inclusive, a inserção social pode ser facilitada pela clínica da escuta de forma que o sujeito possa reconhecer seus limites e tomar providências preventivas, e não extremistas como na internação. Além disso, uma escuta ativa por parte do profissional permite encarar o paciente como ser multifacetado e não como números referentes às patologias (CID 10 ou DSM IV). É justamente esta escuta que permite um entendimento mais abrangente da enfermidade e do seu tratamento.
Visualizar o paciente como um sujeito sensível não só à sua patologia, mas também à cultura, à sua história, ao ambiente e à psique é justamente a proposta do modelo biopsicossocial, proposto por George Engel: enfoque sistêmico integrado para o comportamento e a doença. Este modelo provém da teoria geral do sistema, subdividido em sistema biológico, social e psicológico. Como os nomes sugerem, o sistema biológico enfatiza o substrato anatômico do organismo; o sistema social tem seu enfoque no ambiente atrelado à cultura e à família; e o sistema psicológico salienta os fatores psicodinâmicos, motivação e personalidade e seus impactos na patologia do paciente.
O modelo biopsicossocial tem como componente de extrema importância o relacionamento médico-paciente. O médico, assim como qualquer outro profissional da saúde, deve estar ciente não apenas do estado clínico do paciente, mas também do estado psicológico e do meio sócio-cultural em que este indivíduo está inserido. Existem vários modelos que caracterizam esta relação médico-paciente que derivam tanto da influência da personalidade, expectativas e necessidades do médico quanto do paciente. Quando estes fatores do médico e do paciente são bastante divergentes, pode ocorrer decepções devido à interpretações errôneas de ambos. Para que isto não ocorra, o médico deve estar ciente do modelo com cada paciente e ser capaz de mudá-lo dependendo das necessidades e exigências de cada situação clínica específica.
Independente do modelo de relacionamento médico-paciente utilizado é preciso que outros fatores sejam considerados. O médico deve ser empático, compreender a si mesmo e até mesmo defensivo em alguns casos. Quando o paciente percebe o interesse, o entusiasmo do seu profissional, ele se mostra mais flexível e tolerante até mesmo à inexperiência do médico.



DALGALARRONO, P., Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais, Porto Alegre: Artes Médicas Ed., 2000.

MONTEZUMA, M.A. A clínica na saúde mental. in: Quinet, A. (org.). Psicanálise e Psiquiatria. Rio de Janeiro: Rios Ambiosos Ed., 2001.

QUINET, A. In: Pesquisa em Psicopatologia Fundamental. Texto: A apresentação de pacientes de Charcot a Lacan, São Paulo: Escuta Ed., 2002.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Musicoterapia de mim


PRIMEIRO ANDAR (los Hermanos)

“Já vou, será
eu quero ver
o mundo eu sei
não é esse lá.”

Como é difícil
Cortar o cordão
Pisar no chão
E se entregar


“por onde andar
eu começo por onde a estrada vai
e não culpo a cidade, o pai”

Sem rumo, sem proteção
O destino, o que será?
Eu preciso começar
Meu primeiro andar


“Eu vou lá, andar
e o que eu vou ver
eu sei lá”

O acaso me intriga
O escuro me assusta


“não faz disso esse drama essa dor
é que a sorte é preciso tirar pra ter
perigo é eu me esconder em você”

Sempre tive a proteção dos meus pais
Amigos, namorado, família
Como me despir desta carcaça
E me mostrar ao mundo?


“e quando eu vou voltar, quem vai saber
se alguém numa curva me convidar
eu vou lá
que andar é reconhecer
olhar”

Vou me permitir descobrir, experimentar
Coragem! Avante!
Quero ver o horizonte...


“eu preciso andar
um caminho só
vou buscar alguém
que eu nem sei quem sou”

Amadurecer de fora pra dentro
Me ver nos outros, encontrar comigo mesma
Saber quem eu sou
Tornar minha companhia agradável para mim
Não serei mais a mesma


“Eu escrevo e te conto o que eu vi
e me mostro de lá pra você
guarde um sonho bom pra mim”

Não quero me perder, quero me construir e fortalecer
Crescer e confiar
Escolhi ter a solidão ao meu lado.

sábado, 3 de julho de 2010

Como atuar no mercado da Psicologia?


Exercer a profissão de psicólogo não é tarefa fácil, não apenas pela exigência de preparo no atuar, mas também na escolha de como e onde atuar. Atualmente, existem várias áreas da psicologia que abrem um leque de oportunidades de atuação do profissional, como por exemplo, a psicologia hospitalar, esportiva, clínica, comunitária, organizacional, jurídica, dentre outras. Além disso, existem as linhas teóricas que exigem, ao menos, um breve conhecimento da maioria para que se posse escolher aquela em que o profissional mais se identifica: Abordagem Centrada na Pessoa (Carl Rogers), Gestalt, Psicodrama (Jacob Levy Moreno), Psicanálise (Freud, Lacan, Jung), Psicologia Cognitivo-Comportamental, Análise Transacional (Erick Berne), Psicologia Transpessoal, etc.

Entretanto, o que se pode avaliar é que muitos dos novos profissionais debatem-se com as portas fechadas. Percebe-se que além da escolha pela linha teórica do profissional e sua área de atuação, o recém-formado deve definir qual será sua forma de agir no mercado. Deve-se pensar em como atuar. Autônomo, empregado, empresário, servidor público, enfim, o psicólogo deve avaliar não apenas suas próprias expectativas, como também a forma de exercer sua profissão, mas também observar o comportamento do mercado, analisando os prós e os contras de cada opção.

Objetiva-se apontar no próximo tópico os caminhos de escolha profissional de psicólogos.

1. ATUAÇÃO INDIVIDUAL

Destaca-se, neste tópico, a atuação do profissional como insubordinado, englobando, portanto, a condição de empresário. Ressalta-se que o psicólogo não pode atuar como empreendedor individual por estar incluído no rol do exercício de atividades intelectuais.

Art. 966. Considera-se empresário quem exerce profissionalmente atividade econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.
Parágrafo único. Não se considera empresário quem exerce profissão intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de empresa. (CÓDICO CIVIL, 2002)

Para se constituir uma empresa é necessário decidir se o psicólogo arcará com o negócio sozinho ou compartilhado. Se a opção for de Empresário Individual, o patrimônio do psicólogo confundir-se-á com o da empresa. Não existe distinção jurídica entre o proprietário e o negócio. Tal conceito reflete na impossibilidade de abertura de filiais, de repasse ou transferência da empresa para um substituto e até mesmo em compartilhar possíveis prejuízos e dívidas do negócio. Já se o profissional optar em atuar em sociedade, poderá abrir uma empresa limitada, sendo esta a forma mais comum para as pequenas empresas no Brasil. (SEBRAE, 2009).

De uma maneira geral, a incidência tributária para os pequenos empresários é menor do que a dos autônomos, dependendo do faturamento e da atividade. Tramita no Senado Federal o Projeto de Lei do Senado 467/08 que pode garantir o acesso das atividades de psicólogos e psicanalistas ao regime tributário denominado Simples Nacional. Este regime oferece benefícios como a unificação da apuração e recolhimento do PIS/PASEP, COFINS, IRPJ, CSLL, podendo ainda estender-se ao INSS Patronal e ISS.

Apresenta-se também a possibilidade de atuação como autônomo. Considera-se o trabalhador autônomo aquele que exerce sua profissão sem vínculo empregatício, por conta própria e com assunção dos seus próprios riscos. Os impostos que incidem sobre o autônomo são ISS, INSS e Imposto de Renda.

2. EMPREGADO

Existe o Projeto de Lei 5440/09 tramitando na Câmara dos Deputados que objetiva fixar o piso nacional para os psicólogos no valor de R$4.650,00. Segundo o IBGE, em setembro, o rendimento médio real (descontada a inflação) dos ocupados foi de R$ 1.346,70 na média das seis principais regiões metropolitanas do País. Com isso, verifica-se que a possível remuneração dos psicólogos pode ser considerada razoável, tendo como parâmetro que a maioria da população se sustenta com quase ¼ deste piso.

Fazendo uma comparação com outros profissionais, o piso dos médicos pode ser votado(PL 3734/08) em R$7.000,00 e dos advogados (SUG 172/2009 CLP) em R$4.650,00. Para o DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), o salário mínimo necessário para suprir os critérios previstos na Constituição brasileira seria de R$ 2.065,47. Portanto, o psicólogo ganharia mais que o dobro do mínimo necessário para se ter “moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social”(CF/1998, Art. 7, inc. IV.), o que o coloca em uma posição privilegiada.

O que assusta não apenas os psicólogos, mas também os empregados privados no país é a instabilidade do emprego. Na intenção de reduzir essa instabilidade, faz-se necessário buscar não apenas o aperfeiçoamento profissional, como também estabelecer um bom networking e saber realizar o marketing pessoal. Quanto maior for a rede de contatos do profissional, maior será a possibilidade dessa pessoa conseguir uma boa colocação no mercado.

O marketing pessoal pode ser compreendido como uma estratégia individual que tem como finalidade atrair, desenvolver e manter contatos e relacionamentos que sejam interessantes, tanto do ponto de vista pessoal como profissional. O marketing pessoal também tem como pressuposto dar visibilidade a habilidades, competências e características consideradas importantes para o reconhecimento do outro (PASSOS; NAJJAR, 1999). De acordo com os referidos autores, o marketing pessoal é um tipo de “marca” do profissional, ou seja, a forma como o profissional é reconhecido no mercado de trabalho, no grupo social ou na família. Esta “marca” é criada ao longo da vida pessoal e profissional de um indivíduo e, muitas vezes, é recriada de acordo com as mudanças que ocorrem na vida do sujeito, seja no contexto pessoal, profissional ou social. Assim, a administração do marketing pessoal com competência é de extrema relevância para o desenvolvimento e a manutenção da qualidade da imagem do profissional.

O networking é uma ferramenta bastante difundida no mundo atual e se refere à capacidade que o indivíduo tem de formar e manter laços que favoreçam oportunidades de crescimento tanto pessoais quanto profissionais. Passos (1999) ressalta que várias pesquisas situam a chance de arrumar um emprego através de um anúncio em revistas especializadas ou jornais, em média, abaixo de 7%. Em contrapartida, o autor destaca que procurar emprego por meio de uma rede de contatos pessoais, apresentando suas qualidades, elegendo e contactando um empregador capaz de valorizar tais qualidades via seus network partners, pode, se tudo for bem feito, obter até 86% de êxito. Deste modo, podemos observar que uma boa rede de contatos pode contribuir em muito para se encontrar oportunidades de trabalho.

3. CONCURSOS PÚBLICOS

Com a grande vantagem de um emprego estável e com uma renda garantida, os concursos públicos passaram a ser destinos de muitos profissionais. Uma análise breve de alguns editais permite observar que as principais atividades disponíveis em vagas para psicólogos são: desenvolver atividades no campo da Psicologia aplicada ao trabalho, tais como recrutamento, seleção, perfil psicológico/profissional, orientação, desempenho e treinamento profissional, proceder à avaliação de funcionários com problemas de comportamento e/ou com distúrbio psíquico e apresentar os respectivos diagnósticos, além de prestar assistência terapêutica, empregando técnicas psicológicas específicas a cada caso.

Observa-se que as vagas específicas para quem tem graduação em psicologia era uma remuneração média inicial entre R$ 1.900,00 e R$ 2.750,00. Os principais locais de trabalho: centros assistenciais, Universidades, Escolas, UBS (Unidade Básica de Saúde) do Programa Saúde da Família, Hospitais, Penitenciárias, Polícia, Secretárias Estaduais e Municipais de Saúde, Educação etc.

REFERÊNCIAS


CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO. Lei nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/leis/2002/L10406.htm. Acessado em 02 de julho de 2010.

SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas. Quais os tipos de empresas que existem? Disponível em
http://www.sebraesp.com.br/faq/criacao_empresa/legalizacao/tipos_empresas. Acessado em 02 de julho de 2010.

PASSOS, A. & NAJJAR, E. R. Carreira e Marketing pessoal: da teoria à prática. São Paulo: Negócio Editora. 1ª edição, 1999.

Crônica de um indagamento


Não consigo compreender o mundo feminino das mulheres. É um planeta com uma fundura muito grande! Difícil desentrevar todos os ministérios que passam pela cabeça delas. Estava eu no bar elitizado da minha cidade paulistana, noite boêmica, igual àquelas das novelas. Estava na campanha de um amigo quando ela apareceu, linda, com a amiga que conhecia meu amigo. Sentamos os quatro numa mesa e fiquei ouvindo eles conversarem sobre casos diverdiados, copa do mundo, política, eleições...
Primeiro eu fiquei só olhando aquela beleza esplenduosa. Não era tão 10% assim, mas chamava atenção. Ela era uma mulher muito inteligente: com 28 anos sabia universas línguas, uma garota profíqua. Usava um perfume bom, cheiroso, tinha os cabelos loirados, alteada, enguia, era fina e requentada, mas parecia ter menas condição dinheiral do que eu. Assim é melhor: não gosto de mulheres que têm mais dinheiro do que eu. Não é que eu seja machista ou nazista, é porque acredito que o homem tem que sempre ter poder em cima da mulher.
Depois de alguns cigarros e cervejas, comecei uma conversa com ela. Na verdade ela que começou comigo, de forma muito alfinetada, por sinal, perguntando por que eu estava fumando se sabia que era proibido. Respondi o óvibiu: porque gosto de fumar, mas não sou viciado. Ainda assim, resolvi da uma orpance a ela e continuei a conversar. Fui perguntando por que ela só tinha tomado vinho e comido fundi se tinha tantas escolhas para serem escolhidas. Ela me respondeu que era a opção da maioria e que também gostava de fazer essas refeições em noites frias. Percebi que ela era referenciável, sem personalidade, Maria vai com as outras. Então não era tão inteligente assim: saber idiomas não suplica em ser inteligente.
Ela ficou mais calada e percebi que pudesse estar me ungunorando, me deixando de lado. Mas logo desartei essa hipófise, pois imaginei que ela pudesse estar com vergonha da minha maioridade. É lúcido para qualquer um que sou superior a ela! Resolvi dar outra orpance e mudei a ética do jogo. Estava tentando conquistá-la pela minha conversa, pois sou muito bom de papo. Passei a tentar ganhá-la com meu bolso, mas me arrependei. Dei de bandeja um presente, chamando ela para ir a um lugar diferente e muito chique. A minha condição dinheiral permite que eu leve as mulheres para lugares de rico. Disse a ela: “já que você está fria, vamos para um lugar mais quente, com coberta e banheira de massageador auquicida?” Sabe o que ela fez? Disse que não responderia a pergunta indelicada, se despediu da turma, pegou a chave e saiu. Difícil entender! Não chamei ela para ir num lugar peba, dei do bom e do melhor. Outra coisa. Todas as minhas perguntas são indelicadas, claro, pois perguntas delicadas é coisa de viado! Se ela quer um viado, ainda bem que eu não quis ela.
Acho que nós homens estamos lascados. Acho que as mulheres estão gostando dos viados mesmo. Esses roboió que se acham “montadores de cavalo” (esqueci o nome), que abrem a porta, que escrevem bilhete de amor, que conversam demais no celular, que entram no computador pra conversar no msm; nada disso é coisa de homem. Mas acho que isso é coisa de mulher idiota da capital. Lá na minha terra homem nem conversa com mulher e aquela que conversa em mesa de bar com homem não presta.
Tive que ir pra casa sozinho. Quer dizer, paguei uma gata para satisgastar minha vontade de homem. Claro né? Nunca fico sozinho e sempre tenho quem eu quero. Sou seduzente, inteligente e rico. Tudo que as mulheres da minha época querem. Por isso que não consigo entender por que é tão difícil pegar uma mulher sem pagar. O problema só pode estar nelas. Ô pena! Coitada dessas mulheres modernas. Estão perdendo a orpance de conhecer um homem macho de verdade!

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Castrados pela Linguagem


Gostaria muito de dar continuidade ao texto sobre sabedoria. Queria pesquisar mais sobre a construção do saber filosófico ou científico, o desenvolvimento da episteme, a maiêutica socrática, mas não vou resistir em construir um texto completamente empírico e experiencial. Depois eu retomo minhas pesquisas sobre esse assunto tão fundamental – o saber.

Venho observando que a juventude está se apresentando cada vez mais limitada. Mostro logo minha angústia para depois fundamentá-la (se é que é possível). Outro dia estava ouvindo na rádio um renomado acadêmico lingüista defendendo a idéia de que nunca o jovem escreveu e produziu tanto como na atualidade, tendo em vista novos instrumentos eletrônicos e virtuais que “estimulam” a produção destes constructos: Orkut, MSN, Twiter, Facebook, Blogs, etc. Além disso, o grande leque de informações oferecidas através da internet permitiu ao jovem um maior contato com as notícias, as teorias científicas, as inovações, o que enriquece bastante o repertório intelectual do adolescente. Essa é a idéia dele.

Penso completamente o contrário: nunca o jovem “ctrl C ctrl V” tanto quanto hoje. Realmente a atual realidade virtual estimula a produção da escrita, mas isso não significa que ela seja enriquecedora ou construtiva intelectualmente. Eu não sou uma exímia usuária destas ferramentas, mas navegando superficialmente no Orkut e conversando eventualmente no MSN podemos perceber o imenso vazio das informações – quando elas existem. Não quero nem entrar no âmbito dos erros gramaticais (ortografia e concordância são exigências demais para a comunicação na internet), mas os jovens não conseguem nem expressar o que pensam. A verbalização dos sentimentos e idéias tornou-se algo muito complexo. O que teoricamente parece ser fácil – dizer o que penso, o que sinto – passou a ser complicadíssimo para essa juventude, principalmente sem o uso das muletas “tipo assim, entendeu?, éééé”.
Quer que eu resuma? Peça para um vizinho, aluno mediano de escola de classe média alta, entre 15 a 19 anos, escrever em 10 linhas sobre qualquer assunto. Com certeza você perceberá um certo desespero nele em iniciar esse texto, não pelo vazio da temática, mas por realmente não saber como concretizar o abstrato que se encontra as idéias. Vamos sair da escola e passar para a faculdade...

Muitos alunos não sabem escrever! Continuo sem entrar no mérito da gramática. O que me angustia é o fato de não conseguir por no papel seus pensamentos, concatenar as idéias, ter um a visão geral sobre sua opinião. Às vezes não sabe nem como organizar em início, meio e fim, quiçá apresentar argumentos para embasar o que defende. Não quero que retirem o crédito do meu discurso pelo seu empirismo, afinal o saber empírico também é motivador da busca pela verdade. Mas que isso é um fato facilmente observável, é! Os pequenos artigos e resenhas produzidas pelos alunos são iniciados com múltiplos recortes da internet, superficialmente alterados com sinônimos. Não tenho o respaldo de professores para confirmar essa minha observação, já que eles corrigem essas produções e também as provas. Só tenho como me defender com a observação da minha irmã, professora de português do ensino médio, que ainda se assusta com a capacidade de errar dos alunos! E muito desses erros é pela falta de domínio da escrita, por não conseguir escrever o que pensa (já que eles conseguem falar). Mas para não sair do âmbito da faculdade, cito algumas experiências em que tive que fazer a introdução ou conclusão de artigos da faculdade de Marketing, Direito, Enfermagem e até pós-graduação em alguma coisa – para ajudar meus amigos!

Apesar de também estar englobando os adultos jovens, o que mais me preocupa são os adolescentes. Se minha geração, que ainda teve um resquício da enciclopédia, do método “casinha feliz”, de prova em papel pautado, de poucas opções de universidades, já não é lá essas coca-cola toda, imagina a geração que vem por aí... Uma geração de jovens oriundos do “construtivismo adaptado” (eu defendo o construtivismo, quando aplicado da forma certa), precocemente sexualizados, alvos do capitalismo norte-americano, padronizados, pouco pensantes, estimulados apenas a responderem aos “estímulos emburrecedores”. Como pode uma geração de crianças tão inteligentes – vejam como eles dominam rápido os playstations, mouses, teclados, são articulados, espertos, sagazes (meu afilhado de 4 anos entra no MSN sozinho!) – crescerem “burras”? Como diz minha Irma: “eles vão emburrecendo a partir da pré-adolescência”.

Para mim fica claro que a resposta para essa situação está no ambiente. Os filhos estão cada vez mais solitários, vulneráveis aos valores e princípios pulverizados na internet, com poucas influências da família, susceptíveis à educação das babás e dos colegas de classe, fadados às relações virtuais, ao individualismo, à superficialidade, à efemeridade... Não os vejo como plenamente passivos aos estímulos, mas sei que é difícil se esquivar deles (afinal também sou alvo) e que, portanto, eles precisam de alguma ajuda. Não quero que eles se entreguem a este universo restrito (?), com variedades padronizadas (?) e horizontes limitados (?). Enfim, a contradição do ambiente é por si só conflitante e cabe aos que já emergiram mostrar o caminho.

domingo, 30 de maio de 2010


ESTUDANDO UM POUCO SOBRE O ENVELHECIMENTO, algo me chamou atenção: o desenvolvimento da sabedoria. Entende-se por sabedoria como a orquestração do desenvolvimento humano em busca da excelência, tanto em termos individuais como coletivos; um fenômeno que reúne fatores cognitivos e emocionais a fim de desembocar numa inteligência prática (NERI, 2006). Claro que a sabedoria está muito associada às experiências e que, portanto, os mais velhos são os maiores detentores delas (apesar de não existir uma relação necessária entre velhice e sabedoria).

Entretanto, acredito ser possível adquirirmos relativa sabedoria ainda na juventude e usufruir disso para uma melhor qualidade de vida, principalmente no quesito das interações e relações humanas. Como conseguir isso? Não tenho idéia, mas resolvi elencar alguns tópicos destacados por pesquisadores como elementos de um comportamento sábio (NERI, 2006):

1)Conhecimento sobre as necessidades e motivações humanas;
2)Conhecimento sobre as questões existenciais, incluindo o planejamento, a seleção e a organização de informações relevantes para uma solução;
3)Capacidade de considerar o contexto na análise dos problemas. Desta forma, considera a complexidade das situações, a imprevisibilidade da vida e suas ambigüidades;
4)Relativismo de valores. Os sábios concebem que todos os julgamentos são relativos a um sistema de valor cultural e pessoal, isto é, são capazes de reconhecer que existem inúmeras interpretações e soluções para um único problema;
5)Capacidade de compreender e lidar com a incerteza, construindo cenários alternativos e visualizando as possíveis conseqüências (riscos) das decisões.

Não consigo desvincular a existência destes comportamentos a um vasto repertório de experiências. Entretanto, nada impede de exercitarmos estes comportamentos, até porque vários autores têm investigado as raízes da sabedoria na adolescência, acreditando que é importante identificar o que propiciou tal desencadeamento (NERI, 2006). Portanto, a comunidade científica pressupõe que um comportamento sábio na velhice teve origem na juventude.

Analisando os tópicos acima, dois me chamaram atenção: o relativismo de valores e a capacidade de considerar o contexto. Relativizar valores é algo, no mínimo, estranho para nossa arrogância juvenil. Como eu posso imaginar que aquilo que é um fato para mim, pode ser uma versão para o outro? Exercitar diferentes perspectivas é uma tarefa complexa, principalmente porque tendemos a defender aquilo que é mais conveniente para nós. Certa vez, eu li um texto na internet cuja mensagem central era a seguinte: “se as pessoas não discutissem para saber quem tem razão, viveríamos sem conflitos”. Considerando a Justiça como instrumento julgador e atribuidor de razões e concebendo os julgamentos como relativos... (pausa para pop-up de pensamentos).

Já a capacidade de considerar o contexto nos permite ampliar nossa visão. Acredito ser um exercício muito difícil, afinal o recorte da situação facilita sua compreensão e posterior julgamento. Além disso, conceber a própria ignorância diante da imprevisibilidade da vida e da inexistência da verdade absoluta (outra pausa)...
Enfim, o que se percebe é que desenvolver a sabedoria é enfrentar nossa insignificância, encarar nossos medos e angústias, despir-se de máscaras e carcaças e amadurecer. Também é um processo de dentro para fora – não só de fora para dentro (experiências). Acho que se implicar, refletir, analisar os próprios atos já é um bom primeiro passo.



NERI, Anita Liberalesso (2006). O Legado de Paul B. Baltes à Psicologia do Desenvolvimentos e do Envelhecimento. Temas em Psicologia, 14 (1), 17-34.