segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Crônica de uma perda




Como expressar em palavras um vazio tão profundo que nem mesmo o silêncio dá conta de representar? Nem mesmo a escuridão... o vácuo, talvez. É um nada ensimesmado, cuja a realidade não faz sentido algum. Acordar ou dormir, comer, caminhar é quase que uma obrigação, não pela ausência de vontade de fazer, mas de não encontrar sentido algum em fazer... ou não fazer. Como dói perder quem amamos. Fiquei sem referência, sem um norte, sem um farol, um porto, nada. Apenas eu em um barco perdido na imensidão do oceano, sem sequer o céu, quiçá a lua ou as estrelas; apenas a escuridão e o balanço nauseante do meu eu.

O que faço agora? Nem tenho estímulos que me façam pensar no amanhã... Escrevo apenas como um desabafo. Meu Deus, que sensação terrível de impotência diante desse fim que nunca acabou! A primeira sensação que tive foi desespero. Aquela angústia terrível, aquele nó na garganta, uma palpitação interminável, lágrimas e gritos incessantes. Tudo isso girava em torno da minha inaceitação daquela morte. Depois veio a raiva. Sentia muita raiva daquele irresponsável embriagado que o atropelou. Jurei que faria justiça com minhas próprias mãos. Mas esse sentimento de raiva não ocupou o lugar do desespero; foi uma sobreposição. Sentia as duas coisas ao mesmo tempo. Acho que só passei por essa fase por causa do Rivo.

Hoje a sensação é estranha. Continuo sentindo uma angústia melancólica, mas não consigo ver sentido em nada na minha vida. Aliás, para que fazemos isso tudo se também iremos morrer? Para que estudar, trabalhar, crescer, procriar? Quando me tornei mãe, tive a sensação que cheguei à plenitude: o sentido da vida é se doar aos filhos. Senti um amor inigualável, incondicional, gigantesco por aquele ser que saía de dentro de mim.

Mas a vida me ensinou que para todo Yang existe um Yin e experimentei as trevas (e acho que nunca sairei daqui). A sensação que tenho é que de nada vale construir, dar um passo, agir, pois tudo vai acabar, vai apodrecer. Talvez nunca consiga fazer entender esse meu vazio. Nada é análogo a esse sentimento. Não é só saudade, só luto, só tristeza, só impotência, só angústia, só desamparo, só desespero, só desilusão, só desesperança, . É uma sopa de sensações que me desconecta da realidade e me introspecta. Nunca mais serei a mesma. Nunca mais enxergarei as cores do mundo, os cheiros, os sabores.

Mais uma vez as lágrimas rolam rosto a baixo. Mais uma vez me questiono: Por que, meu Deus, por que tirou meu pequeno dos meus braços? Por que achou que eu teria forças para superar a perda de meu único filho? Sem respostas e já exausta dessa tortura, pego meu comprimido e vou dormir.