Criado com o intuito de proporcionar um breve suspiro de produção mental, considerando que a rotina capitalista favorece uma involução do intelecto. A partir de agora a leitura passará a ser obrigatória e o exercício doloroso da escrita será executado não só com audaciosa pretensão de me fazer entender, mas de exercitar a verbalização das minhas idéias e sentimentos. Tentarei, usando essa estratégia, não me entregar tanto aos estímulos emburrecedores...
domingo, 9 de outubro de 2011
Condição Humana
sábado, 30 de abril de 2011
Síndrome da Flexibilização de Valores
Tudo começou com uma simples observação: ou eu o tempo estava me deixando ainda mais careta, old, quadrada, ou a juventude estava flexibilizando cada vez mais os valores e conceitos. Percebi um conjunto de sinais apresentados pelos jovens que me induziriam a acreditar na segunda hipótese:
Redução de satisfações à sociedade
Priorizar questões individuais
Relativização dos julgamentos (certo ou errado)
Grande elevação no número de relacionamentos “abertos”
Pouca importância com os conflitos do outro
Diminuição do apego
Comportamentos frios e superficiais
Maior importância para os fins do que para os meios
Dificuldade com a estabilidade
Influenciáveis
Relações instantâneas, intensas e descartáveis
Facilidade de se reconfigurar
Síndrome é o conjunto de sintomas e sinais que definem uma mesma patologia. A flexibilização de valores é a conseqüência mais visível para a acumulação de todos os sintomas acima apontados: os valores não são mais estanques, ajustados, definidos em si mesmos; eles são fluidos, misturados e relativizados. Mês passado aquela dúvida que citei no início deixou de existir: a síndrome da flexibilização de valores é real. Sabe o pior? Não é privativo dos jovens, mas sim da sociedade.
“Você viu como a nossa arma estava afiadinha? Você viu o estrago que ela fez?” Essa foi a constatação de um dos suspeitos de ter vendido a arma utilizada por Wellington Menezes de Oliveira, responsável pelo massacre na Escola Municipal Tasso da Silveira, no Rio de Janeiro. O cenário de dor e sofrimento foi irrelevante diante da eficácia do produto vendido pelo sujeito. Essa razão que norteia essa criatura é a mesma que explica as corrupções, assassinatos, além de pequenos atos de um cidadão tido como comum. Não quero dizer que qualquer cidadão seria capaz de emitir esse comentário, o quero expor é que esse pensamento é resultado da falta de autonomia a qual falei anteriormente.
A constante mudança, intensa rapidez com que as informações, padrões, sistemas e processos são reformulados, substituídos, descartados e reconstruídos permite o afrouxamento de algumas estruturas do indivíduo. Zigmunt Bauman utilizou em seu livro Modernidade Líquida a metáfora da “fluidez” ou “liquidez” para caracterizar a contemporaneidade. É justamente essa fluidez que permite a reorganização das moléculas para a adequação ao espaço a ser ocupado.
Antigamente poderíamos caracterizar a sociedade como resistente, onde o sagrado era evidenciado, havia maior valorização do passado, das crenças e das tradições. As mudanças sempre estiveram presentes e demandavam a adaptabilidade e transformação do indivíduo, porém como a sua constituição era sólida, essa transformação constituía-se em lapidações, na qual se preservava a essência indivíduo, sendo impossível acoplar um quadrado num espaço circular. As mudanças continuaram e nesse contexto, os primeiros sólidos começaram a se derreter para permitir uma melhor adaptação. Bauman continua seus estudos constatando que a modernidade fluida repercutiu numa grande alteração na condição humana com tendência de desenvolvimento nos conceitos básicos da emancipação, individualidade, tempo/espaço, trabalho e a comunidade. O tempo e o espaço são extremamente reduzidos. A modernidade concentra esforços para alcançar rapidamente um objetivo que se distancia cada vez que se aproxima. O homem moderno é aquele cuja estagnação é impensável. Nas organizações, nos deparamos com a geração Y, folgados, distraídos, superficiais e insubordinados. Não “vestem a camisa da empresa”, pois não tem compromisso de fidelidade e lealdade a ela – “vou para quem me der mais”. É necessário estar sempre à frente, o que inviabiliza uma construção sólida para sustentar todas essas contínuas e repentinas transformações. A identidade é desprezada, pois não existe identidade essencial na liquidez: a “identidade” na liquidez depende do ambiente. Qual o reflexo dessa instabilidade da modernidade na construção do indivíduo? A instabilidade do próprio indivíduo.
Como posso manter a integridade dos valores numa modernidade líquida? Além disso, como posso construir valores, conceitos e até mesmo uma identidade num tempo de fluidez da sociedade? Se a construção do indivíduo está sendo afetada com essa mudança social, imagina as relações sociais: descomprometidas, desacreditadas, descredibilizadas. A frieza e desumanidade da frase emitida pelo suspeito de vender a arma para o assassino do Realengo reflete seu descompromisso e insensibilidade com o coletivo. O que podemos fazer para evitar a síndrome de flexibilização de valores decorrente da racionalidade instrumental? Discussão para o próximo post.
FREITAG, Bárbara. A teoria crítica: ontem e hoje, São Paulo: Brasiliense, 1994
BAUMAN, Zigmunt. Modernidade Líquida. São Paulo: Zahar, 2001.
quinta-feira, 24 de março de 2011
Eu e meu eu-lírico: Juventude e boa vontade
domingo, 20 de março de 2011
Dia da Mulher
Dia Internacional da Mulher! Minha mente já está condicionada a pensar na figura delicada, meiga e linda, sempre ao lado de uma bela rosa vermelha. Uma poesia dedicada à beleza da mulher, ao equilíbrio entre a sutileza e força. Uma declaração de amor do marido, reconhecendo a dedicação da sua esposa. Uma mensagem empresarial reconhecendo o crescimento das mulheres (em números e resultados) na organização. Sugestão para presentes: flores! Enfim, clichês.
Os clichês têm seu lugar. Primeiro porque, se virou clichê, é porque houve repetições. Se houve repetições é porque houve aceitações. Portanto, os clichês, em algum momento, satisfizeram a maioria. O problema do clichê é a previsibilidade... Resultado? Elas cansaram de serem homenageadas com esses clichês.
Hoje elas são mais do que independentes, ousadas, inteligentes, guerreiras. As mulheres de hoje: “pães” (pai+mãe); “solteiras sim, sozinhas nunca”(mulher melancia); “mulher não trai, mulher se vinga” (aviões do forro); “arranjar um amor só pra me distrair” (Alcione); “quantos homens me amaram, bem mais e melhor que você” (Chico); “contornei” (Márcia, Zorra Total); “Sexo sem compromisso (filme que preciso assistir!)”. Vamos “retirar todo o lençol” e mostrar que elas não precisam mais só da auto-afirmação do equilíbrio: esposa-mãe-trabalhadora. É preciso auto-afirmar a relação da mulher com sua sexualidade. Sem pudores, vergonha ou preconceito.
Hoje elas são gays, bi e mães. Optam pela produção independente ou por não terem filhos. Por não casar ou por trair. Têm vários parceiros ao longo da vida. Beijam amigos e amigas (e às vezes transam), sem compromisso. Realizam suas fantasias. Partem para a conquista! Tomam atitude. Dão na primeira noite. Por favor, não vamos entrar no mérito da promiscuidade. O discurso gira em torno da flexibilização dos pré-conceitos do século passado. Àquele que julgar uma mulher como vadia por ter transado na primeira noite é tido como, no mínimo, limitado (que o diga Diogo do BBB11). Vamos tomar por referência aquela mulher linda, meiga, educada, jovem e independente: ela pode fazer tudo e manter sua saúde sexual e sua idoneidade. Hoje, elas podem!
A história começou com os clichês, onde a homenagem das mulheres era regada à flores, poesias e declarações. O que fazer para sair desses clichês? Continuam as flores, poesias e declarações – pois elas adoram. Elas querem também ser reconhecidas pelo lado loba. Está na hora de acabar com o tabu que é a libido feminina. Quebrar esses limites machistas já rachados pela ascensão financeira das mulheres. Homens: presenteie-as com lingeries e brinquedos; músculos e inteligência; preliminares e rapidinhas; lealdade e virilidade. Cuidem-se e compareçam com qualidade, afinal elas querem, merecem e terão (estando vocês presentes ou não).
sábado, 19 de março de 2011
Em breve novos conteúdos.