sábado, 31 de julho de 2010

Análise da Dinâmica de Grupo



A dinâmica de grupo faz-se presente no mundo atual em diversas áreas e passeia desde a psicologia à administração de empresas. Um mundo individualizado e até mesmo individualista está demandando pessoas que mantenham bons relacionamentos com grupos e, até as próprias pessoas demandam esta mudança no comportamento para seu melhor desempenho na sociedade.

Para caracterizar melhor a dinâmica de grupo, faz-se necessário desenvolver a idéia de grupo que suas teorias fundamentam. O grupo não é considerado a soma dos seus integrantes; é algo além deste conceito. Ele possibilita aos membros uma consciência, que difere da dos indivíduos em si, dos aspectos que facilitam e dificultam na obtenção dos objetivos propostos.

O processo grupal ocorre em dois níveis: o manifesto e o latente. Nem sempre estes dois níveis caminham em paralelo, pois, por exemplo, no nível manifesto o grupo reconhece uma estrutura de poder, no entanto, o latente, o subjacente, funciona com uma outra estrutura. A dispersão da energia, na manutenção desta situação faz com que o motivo de existência do grupo não se satisfaça plenamente. Outro exemplo se dá na estrutura de papéis que é criada pelo grupo. Quanto mais flexível for esta estrutura, possibilitando que seus membros exercitem um maior número de papéis, tanto maior será o nível de satisfação experimentado pelos membros do grupo. O contrário, ou seja, a rigidez, a cristalização dos papéis existentes no grupo, diminui o investimento de energia nos motivos do grupo, pois está voltada à manutenção dos papéis, o que pode provocar um maior desgaste. Além disso, ainda nos níveis manifesto e latente, há os papéis que o grupo espera que um indivíduo represente, os papéis que o indivíduo espera representar e os papéis efetivamente representados. A desarmonia destas três expectativas, nos dois níveis, propicia sentimentos de frustração, de não aproveitamento de potencial etc.Enfim, Dinâmica dos Grupos é o estudo destes processos, e outros tantos, objetivando um melhor funcionamento do grupo a partir das consciências individuais.

O principal colaborador para a dinâmica de grupo foi o psicólogo Kurt Lewin, atuante da psicologia social. A característica notável da psicologia social de Lewin foi a aplicação de conceitos relativos aos comportamentos individual e grupal. Assim como o individuo e seu ambiente forma um campo psicológico, o grupo e seu ambiente também compõem um campo social. Foi Lewin quem popularizou a dinâmica de grupo.

A dinâmica de grupo, nos dias atuais, tem sua aplicação até mesmo na educação nas escolas. Os professores procuraram ensinar capacidade de liderança, cooperação, participação responsável e relações humanas. Surgiu a concepção do professor como um líder de grupo, que influi na aprendizagem dos alunos, não só por sua competência na matéria, como também por sua habilidade em aumentar a motivação, estimular a participação e criar entusiasmo. Esta visão do professor como facilitador foi apresentada por Paulo Freire.

Educador preocupado com seus deveres sociais, Paulo Freire desenvolveu um método de ensino particular que está atrelado às vivências cotidianas do educado. Neste método, o educador (animador) facilita a alfabetização ao considerar palavras, situações e até mesmo pessoas do dia-a-dia do estudante. Desta forma, o processo de aprendizagem considera a relação educador-estudante, abdicando da visão vertical hierárquica. A pedagogia deve ser dialógica, que exige um pensar verdadeiro e crítico. É justamente neste pensamento que Paulo Freire contribuiu para o amadurecimento da dinâmica de grupo.

Não se deve existir a dicotomização homens e mundo, mas sim uma contínua interação. Como seres inacabados, os homens se fazem e refazem na interação com mundo, objeto de sua práxis transformadora. O contínuo aprendizado está presente não só nas salas de aula, como também fora delas. O saber absoluto não esta impregnado em nenhum ser humano e isto é fator motivador para a absorção de conhecimentos que partem dos outros, independente do nível de conhecimento acadêmico que este outro possui.

Uma outra aplicação da dinâmica de grupo está na psicoterapia. O psicodrama de Jacob Levy Moreno é um exemplo no qual a dinâmica de grupo está bastante presente. Para Moreno o homem é um indivíduo social, pois nasce em sociedade e necessita dos outros para sobreviver, sendo apto para conviver com os demais. Moreno objetiva a possibilidade de tratamento e cura das relações sociais doentias através da sociatria (psicoterapia de grupo, psicodrama e sociodrama). No Psicodrama é o tratamento do indivíduo e do grupo ocorre através da ação dramática. Na Psicoterapia de grupo a dinamica grupal prioriza o tratamento das relações interpessoais. O Sociodrama encherga o grupo como o protagonista enquanto mantêm alguma tarefa ou objetivo em comum.

A principal contribuição de Moreno para a área de dinâmica de grupo foi a importância da espontaneidade, da criatividade e da atuação em papéis. Uma dinâmica grupal flui melhor e é mais completa quando seus integrantes estão agindo de forma espontânea e extrovertida.

Carl Ransom Rogers também foi outro psicólogo que deixou grande legado a ser absorvido pela dinâmica de grupo. Apesar de haver um foco na relação psicoterapeuta cliente, os conceitos rogerianos podem ser absorvidos na relação grupal; são eles: a consideração positiva incondicional, a empatia e a congruência. Em linhas gerais, ter consideração positiva incondicional é receber a aceitar a pessoa como ela é e expressar um afeto positivo por ela. A empatia, por sua vez, consiste na capacidade de se colocar no lugar do outro, ver o mundo pelos olhos dele e sentir como ele sente, comunicando tal situação para ele, que receberá esta manifestação como uma profunda e reconfortante experiência de estar sendo compreendido, não julgado. A congruência é a condição que permitirá ao profissional, embora alimente um afeto positivo por seu cliente e tenha a capacidade de “estar no lugar” dele, a habilidade de expressar de modo objetivo seus sentimentos e percepções, de modo a permitir ao cliente as experiências de reflexão e conclusão sobre si mesmo. Tais situações devem ocorrer com naturalidade e sinceridade, não havendo simulação.
Rogers percebeu que estas três condições são eficazes no aperfeiçoamento da condição humana em qualquer relacionamento interpessoal. Sendo assim, para que uma dinâmica de grupo seja bem elaborada e flua com facilidade é necessário que a compreensão seja a base da harmonia do grupo. É justamente no desenvolvimento desta capacidade de compreender que Rogers enfatiza seus estudos.
Enrique Pichon-Rivière foi outro autor que muito contribuiu para a dinâmica de grupo. Ele concebe o homem como ser social e a subjetividade humana se constitui no campo do outro. Surge o conceito de vínculo, como uma estrutura complexa e multidimensional que abriga sistemas de pensamentos, afetos e modelos de ação, maneira de pensar, sentir e fazer com o outro. Para Pichon-Rivière, o sujeito pode ser considerado como um sistema que não é autônomo em si mesmo, mas um sistema incompleto que "faz sistema com o mundo".
A concepção de Pichon-Rivière do homem intimamente relacionado com o mundo e o outro parece bastante extremista, já que pouco considera a individualidade humana. Porém, tal concepção faz-se necessária para a manutenção das relações interpessoais e a valorização desta como fundamental para constituição do ser humano. Tal fato também se aplica nas experiências de dinâmica de grupo.
A dinâmica de grupo é fundamentada em pesquisas científicas para sua melhor exploração. A crença na possibilidade de se realizar pesquisas empíricas com grupos de pessoas, de medir fenômenos importantes, de manejar, para fins experimentais, as variáveis de grupo e de descobrir as leis que governam a vida do grupo, foi fundamental para o desenvolvimento da dinâmica de grupo. Graças à estes e outro muitos autores, esta área tão utilizada em diversos campos profissionais foi criando uma dimensão e se estabelecendo e estruturando para abraçar toda esta demanda. O mundo moderno está exigindo resultados das dinâmicas: uma melhora na relação doentia e frágil que os individualistas stressados tanto almejam.
Apesar dessa demanda pelos resultados é preciso visualizar a dinâmica como um processo que envolve certo controle por parte do profissional, mas que muitas vezes revela resultados imprevisíveis. As respostas encontradas nas dinâmicas, suas conseqüências e resultados são provenientes da interação do grupo e as relações que as pessoas estabelecem. A dinâmica de grupo compreende o ser humano como sujeito multifacetado, repleto de subjetividades e que se relaciona com o meio, sendo, portanto, vulnerável à mudanças contínuas. Portanto é impossível prever os comportamentos que as pessoas podem apresentar e sim levantar hipóteses sobre tais comportamentos. Destarte, a psicologia tem grande importância para a dinâmica de grupo. Logo, este assunto deveria ser mais desenvolvido nas áreas psicológicas.
As contribuições dos diversos autores foram cruciais para a construção do repertório teórico da dinâmica de grupo e com certeza existe a influência da psicologia para tais. Da mesma forma, a aplicação da dinâmica de grupo exige conhecimentos prévios da psicologia para melhor compreensão dos resultados. Porém estas atividades deveriam ser mais exercitadas pelos psicólogos para que o domínio da técnica seja algo freqüente entre o meio.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:


BRANDÃO, C. R., O que é método Paulo Freire., Ed. Brasiliense - São Paulo, 1981 (14 ed, 1988), 113 p. - (Coleção Primeiros Passos)

CARTWRIGHT, D & ZANDER, A. Dinâmica de Grupo. Ed. Cultrix – São Paulo, 1973

LAPASSADE, G. Grupos organizações e instituições. Ed. Francisco Alves - Rio de Janeiro, 1977

MORENO, J. L., Psicoterapia de Grupo. Ed. Mestre Jou – São Paulo, 1975

SCHULTZ, D.P., E SCHULTZ, S.E., História da Psicologia Moderna. Ed. Cultrix – São Paulo, 1981

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